quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Romantism Only Occurs Here

Já perdi a conta de quantas vezes li seu depoimento ou entrei no seu blog ou ouvi seaside do the kooks ou cannonbal do Damien Rice ou folheei suas fotos no computador, porque eu tenho todas salvas caso você as tirasse do Orkut.
Já nem lembro mais quantas vezes senti o cheiro do seu perfume na rua e comecei a seguir um desconhecido de perto, só para me sentir mais perto de você. Quantas vezes sonhei acordado com você, às vezes não fazendo nada, só sorrindo para mim. Aliás, não preciso de mais nada. Seu sorriso já é tudo.
Às vezes meus pensamentos extrapolam alguns limites. Chego a me sentir bobo. Essa noite sonhei que eu tinha te ligado de Niterói e tinha lhe falado - " vamos fugir?" - e você aceitava e ia pra Niterói comigo e arrumava um emprego e eu arrumava um estágio e a gente começava a viver junto. Quando parei pra pensar no quão idiota isso havia sido, ri vitorioso: ainda sou capaz de amar como um adolescente". Não sei se é bem uma vitoria, mas nem foi tempo perdido.
Não sei quando vou te ver de novo e essa sensação me esmaga como se fossem duas paredes se aproximando cada vez mais de mim e não houvesse fuga. Gostaria de ter o mesmo privilégio de acordar do seu lado e te ver ainda dormindo. É algo que, às vezes, as pessoas nem percebem que é algo tão valoroso: acordar do seu lado. Não é nada exepcional acordar do lado de outra pessoa na maioria dos casos, mas nesse em especial eu queria ser a primeira pessoa a te dar bom dia e a última pessoa que você fosse ver todos os dias. Nossa, que tortuta! Acho que você não suportaria isso... hahaha
Queria poder fazer o seu café e colocar a xícara de açúcar do lado só pra te irritar e você me perguntar pra que que a gente comprou uma xícara de açúcar e eu responder que você comprou só pra me irritar e você fala "ai, Roque" e fazer cara de criança que toma injeção e eu rir e te abraçar e você falar "tá me machucando" e eu rir de novo, dessa vez mais sem graça e te largar e afundar a cara num livro. Sentir seu cheiro na casa toda, como às vezes sinto aqui em casa e me sinto bem. Se penso demais em você, tudo começa a ter seu cheiro e isso é bom. Melhor seria se pudesse ter você por completo, mas não vou reclamar de, pelo menos ter seu cheiro.
To pensando numa desculpa pra te ver, pra sairmos eu e você. Sem compromisso, sem ideias, sem hora pra voltar... só pra ver que nada mudou e que você ainda é a melhor companhia do mundo.
Só queria ter a oportunidade de te dar a oportunidade de enjoar de mim.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

eu já entendi melhor essa coisa chamada amor

Entendo fielmente o que está se passando. Mesmo sem ter sentido ou porquê. O amor é assim, entendo eu. Acontece. Simples e puro. Na mesma frequência da infância já na vida adulta. Me pego novamente remoendo meus lábios com os dentes e com aquela leve pruma de ansiedade que, quando era mais jovem, me fazia falar pelos cotovelos e não dormir. Hoje, muito mais tranquilo e já aceitando com certa parcimônia o fato de ficar apaixonado, me contento em ficar vendo e revendo mentalmente os momentos que passamos juntos. Acho que é isso que acontece quando vamos amadurecendo, não nos apaixonamos menos, apenas nos acostumamos com os efeitos colaterais da paixão.
Eu, pelo menos, estou me acostumando já aos efeitos de chegar perto de você. Porque quando você aparece no meu campo de visão, ocorre uma guerra interna que se você não percebe, estou indo muito bem nas aulas mentais de teatro. Uma perna minha começa a correr e a outra não anda, freia. Assim me aproximo: tentando me impedir ao máximo de correr, mais com medo de não conseguir parar e te carregar feito um pacote em meus braços até um lugar onde eu possa ficar conversando com você initerruptamente até eu padecer de velhice do que com medo de você perceber que eu estava correndo. E quando chego, começam as outras guerras corporais. Minhas bochechas, que até então eram perfeitamente conjugadas, começam a querer se afastar de uma forma quase que absurda, quase que pulando do meu rosto. Minhas orelhas, quase escondidas atrás da bochecha amolecem e se preparam para ouvir o tom da sua voz, aquele "oi" quase tão empolgado quanto a batida do meu coração. Esse, aliás, se transforma em baterista de death metal, quase batendo um bumbo duplo. Minhas pernas tremem, quer dizer, elas tentam sumir, quase que mandando eu me ajoelhar diante de você só para que você saiba que te idolatro.
Depois de algumas frases trocadas meu arquétipo começa a se controlar. O corpo todo pára, até meu estômago faminto desliga o vibrador para te escutar. Sua sinfonia percorre meu corpo inteiro, e a dança emana psíquica e meu sangue flui em tango apaixonado.
Dava pra passar a vida toda assim. Quieto, só olhando e ouvindo. Ah, como seria bom, poder passar a vida assim, só te olhando e te ouvindo. Falando um pouco é claro, como um gesto de cortejo para acompanhar a sua voz nessa melodia que chamamos de conversa e que nos soa contente, quase maravilhosa.
Dava pra passar a vida inteira assim esperando te ver no dia seguinte, só pra continuar assim...

Como diz o Caetano

"te espero meu bem, pra gente se amar de novo : mimar você" (8)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ser junto

Lá se ia de novo, convicto. Não era mais um homem. Era o movimento. A ação separada da pessoa. Naquele momento, sua existência era mera figuração. Não era ele que estava alí. Era só a emoção. Caminha tão firme que parecia que ele não se mexia, o chão que corria na direção oposta da dele.
A mulher reclamava no fundo, ele nem ouvia. O som passava como o vento passa pelos casacos. Sem causar o menor efeito na pele interna. Fechou a cara como fecha o tempo durante aquelas chuvas repentinas de verão. Verdadeiro temporal facial.
Bateu a porta com a força e o desempenho de quem diz que nunca mais vai voltar. Entrou no elevador como se tivesse certeza do que estava fazendo, mas nunca teve coragem de passar da recepção do prédio.
Acontece assim. Ele sempre se irrita. Ela é sempre uma idiota. Essa é sempre a última vez. Mas ninguém tem coragem de ir embora pra sempre e, no caso dele, ele não tem coragem de ir embora nem por cinco minutos. Amar é assim.

sábado, 4 de dezembro de 2010

talvez uma promessa.

Você diz que me ama, mas a gente nem brigou ainda...
a gente nem se chingou até a morte, nem chorou de ódio.
A gente nem ficou uma semana sem se ver, ou deu um tempo
e mesmo assim, você diz que me ama.

A gente ainda nem viu o sol nascer ao contrário
a gente ainda não acordou de ponta cabeça, nem passou nenhum perrengue
você ainda nem sentiu ciúme da minha melhor amiga, ou das outras grandes amigas.
Nem das trocas de olhares, das conversas de bar ou dos abraços demorados
E mesmo assim, diz que me ama.

A gente ainda nem ouviu nosso tom de voz
nem se criticou
nem atirou coisas um no outro.
A gente ainda nem riu vendo um filme junto
chorou vendo um filme junto
Eu ainda nem odiei as coisas que você adora.
Você ainda não reclamou das minhas manias porcas..
E mesmo assim.. você diz que me ama.

Deixe apenas eu esquecer as meias no sofá
as roupas espalhadas na cama
espere eu parar de lavar os pratos e viver como se nada tivesse que ser feito.
Aguarde até eu ser demitido pelo menos e ficarmos no vermelho.
Quando não tivermos o que comer e você souber que a culpa é minha. Do meu orgulho infernal.
Aí sim eu quero que me olhe com sinceridade e diga, do mesmo jeito que diz hoje... "Eu te amo"

Ah! Sim, claro.
Como pude esquecer?
Você vai reclamar quando eu sair sem você
e vai dizer que está presa em casa
que eu só penso em mim
que não ligo para nada.
Que só quero saber dos livros
e eu não vou mexer um dedo.
Não vou falar uma palavra
você não está errada.
Muito menos eu.
te avisei que não era hora de dizer que me amava, mas você prometeu que não ia se arrepender.

domingo, 21 de novembro de 2010

é só por isso

eu te amo, sabe..
e é meio complicado lidar com esse amor,
digo.. é meio difícil aceitar que te amo mesmo
sabendo que o prazer de te encontrar é quase tão grande quanto a certeza de não poder
mas não tenho escolhas se não escolho quem ou o quanto amar.
Mesmo que tivesse, creio que não mudaria minhas escolhas; por pior ou mais difícil que seja amar você.... Mas guardo comigo algumas verdades...
Não vou te esquecer
Não sei se aceitaria te perder
e mesmo que seja impossível ter você
eu não escolheria ninguém diferente para amar.
Acho que, de todos, esse é o maior motivo, acho que é por isso que te amo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Guerreiro do mar

Sem barco, sem botas e sem seu chapéu. Carrega agora apenas as glórias. As grandes vitórias no mar... Suas lutas; tantas mortes... tantas perdas.
Se lembra da primeira vez que entrou num barco e empunhou uma lança. Sim, uma lança. Naquele barco não se usavam espadas. E foi ao mar em busca de novos inimigos.
Um dia encontrou um Gigante Branco. Mal conseguia se mexer. A lança escorregava de sua mão, chegou a pensar que a mesma lançava a si própria, por extinto de arma que era. Feriu-o aos poucos até que morresse. Foi talvez o dia em que perdeu mais homens. Não para o inimigo, pois o mesmo mal teve tempo de revidar, tirando dois balaços, quase como bolas de canhão que dera na proa. Perdia seus homens para o mar. Caíam do barco e sumiam em seu gigante azul..
Como era grande e esperto, ó capitão. Lutou sozinho por muitas vezes, outras mais comandou vários homens, uns em rumo à morte, outros à glória, mas todos foram com dignidade e esperança. Acumulou poucas riquezas, mas venceu guerras que jamais entrarão em livro de história algum.
Hoje restam só recordações das suas batalhas e um pedaço da bandeira que lhe deu rumo na vida: "Compania do Peixe"

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Solua

O amor é um egoísmo. Não daqueles egoísmos ruins, quase mimados, que transtornam as pessoas à volta, mas um egoísmo bom. Como aquele de quando se tem um brinquedo que se gosta muito e não o empresta. Não por ser uma criança egoísta em essência, mas por querer preservar toda a beleza da virgindade daquele brinquedo novo. O simples toque estranho, o descuido, o descaso, poderia abrir uma fenda. Uma perda de sentido, de razão.
Assim se guarda o amor, como se guardava o brinquedo: o segurava e o apertava, quase o esmigalhava contra o peito num gesto seco de defesa e cuidado. E o apertava tanto e o resguardava tanto que o brinquedo, coitado, quase se partia nas sobras que ficavam entre a extremidade dos braços e o peito. Assim se guarda o amor: quase esmigalhado entre a extremidade dos abraços e a folgura dos desejos. Frágil e leve como uma molécula de água, se esconde entre os braços fortes, quase um fugitivo do prazer. Se desmancha e se acaba como o alvorecer. Duradouro e belo quase se eterniza durante os poucos momentos que existem. Passagem quase serena, desconsiderando as leves turbulências, talvez até tenha sido eternizada em alguma foto ou quadro. Após tal encontro, precisa de horas para se reerguer e se reencontrar. E vem, com força estrondosamente bela. Em tons de rosa, roxo, lilás e azul, tomando conta de tudo que observa. Enchendo de esperança até aqueles que já haviam esquecido há muito tempo o poder de tal observação. Vem-se o crepúsculo. Forte como o vento, mais intenso que a alvorada, forte e arrasador como uma boa noite de sexo. Figura-se nos rostos mais cansados. Culmina na noite, que é o encontro e a morte. Do dia e do amor. Que talvez reacorde. Talvez.
Como o boneco um dia há de reacordar e ser novamente usado, dessa vez talvez, perdida sua integridade bíblica, seja até partilhado. Aí nasce o amor entre duas pessoas. Da simples partilha de um algo comum. A passagem entre o Sol e a Lua. Crepúsculo e alvorada.

sábado, 9 de outubro de 2010

Um adeus.

Ele entra.

- Te odeio. Te odeio muito. Seu falso, mentiroso. Monstro! Como você pôde fazer isso comigo!? Canalha! Idiota.
Você dizia que me amava! Você só queria se aproveitar de mim. Você nunca me amou! Você não vale nada! Seu merda! Seu merda! Filho da puta. Vai embora! Eu te odeio! Eu te odeio muito! Vai embora e nunca mais olha na minha cara!

Ele sai. Ela chora.

não digo, é ruim.

Não não digo que é ruim
também não digo nada
que é melhor que dizer algo que não concordo.
Não me interesso por valores impostos.
Crio meus próprios dogmas minhas próprias fronteiras minhas próprias religiões minhas próprias ilusões.
Não sigo caminho nenhum todos levam a um lugar já antes alcançado. Quero mais.
Quero meu próprio caminho com meu nome nele e nenhum destino. Quase uma falsidade ideologica de caminhar. Rumo nu. Nem penso em resposta pra nada. Rumo nu
Não, não. Digo que é ruim
também não, digo, nada.
Que é melhor que, dizer algo que não, concordo.
Não. Me interesso por valores, impostos.
Crio meus próprios, dogmas, minhas próprias, fronteiras, meias próprias, religiões, meias próprias são ilusões.
Não sigo: caminho. Nenhum e todos levam a um lugar já antes alcançado. Já antes, cansado. Quero sim, mas quero o meu.caminho só meu. Nome nele é nenhum, destino. Quase uma falsidade. Ideologia de caminhar. Rumino, nem penso em nada pra responder. Rumino, nu. Também não digo nada que é melhor.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Retrato niilista

Sigo mais uma rota porca
Sigo, mais uma rota porca
Viro a esquina se entorta para me acompanhar
Viro, a esquina se entorna, pára, me acompanha.
Lado a lado com o diabo
Nado, a lado com o diabo.
Que retrato de fim de vida.
Que retrato de fim! Que vida ?
Nada de moinho
Nada demonio
Na dade monho
Nademo danho
Nademos Danho !
Danho! Acorda, que sonho
A-cor-da-que
A corda que
A corda !
Meu Deus! Estou preso!
Meu, preso ! Estou Deus
Deus preso, estou meu.
Preso, Eu, Deus estou.
Preso, Eu, Deus esou
Eu e EU sou Deus! e nada demonio
E eu sou eu e Deus e o demonio, nada.
E eu sou nada.

6

Não consigo evitar
não, consigo evitar
não é inevitável
não, é inevitável
não sei
não. Sei
Talvez siga sem saber
Talvez, siga sem saber
o que

domingo, 19 de setembro de 2010

Um bar - uísque pt.3

Eram seis horas. Um dia, cruel e cansativo como todos os dias de trabalho. O suor escorrendo de sua testa, a gravata frouxa, a camisa desabotoada. Uma cara cansada e triste encarava os papéis por sobre a mesa. Era só mais um dia de escritório. Mais um dia terrível de escritório. Cruel e cansativo. Pior: cruel, cansativo e inevitável, como a morte de um ente querido. Já eram seis horas e em pouco tempo estaria livre daquele tormento, físico e mental, mas quanto mais tempo passava lá dentro, mais queria de sair. Não suportava mais nada: o cheiro, os rostos, a cadeira, as cores do prédio, o piso do andar onde trabalhava, a música do elevador, o cheiro de limpador perfumado barato e os extintores destacados nos corredores frios.
Finalmente acabara. Poderia ir para casa, mas foi convidado por uns colegas de trabalho para ir a um bar, no julgamento deles, muito bom. Aceitou com um pouco de luta, mas foi. O bar não era longe, puderam ir andando, e recebeu a proposta de uma carona para casa, o que seria ótimo. Chegaram no bar em uns cinco minutos. O nome era "Bar da Tia", achou o nome pouco interessante, entrou. O lugar era pequeno e mal arrumado. Haviam alguns garçons que sambavam por sobre as mesas espalhadas de forma ilógica. O próprio ar do local o deixava enjoado. Um cheiro de limpeza suja e fritura atordoava todos que não estavam acostumados. Ao fundo, um bêbado monopolizava a "jukebox" colocando músicas que, provavelmente,ouvia com sua ex esposa. Ao final de cada uma, chorava, o que deixava o ambiente, caso prestasse atenção, ainda pior.
Receberam o menu. Olhou de relance os preços e o colocou na mesa. Não pediria nada, olhou para os acompanhantes, estavam avaliando cada opção com uma visão clínica, como se tudo valesse à pena e estivessem apenas selecionando a cirurgia de hoje. Ao final de alguns dez minutos, olharam, todos ao mesmo tempo para ele, um deles, Carlos, se não se enganava, perguntou:
-"E ai, cara, vai pedir o que ?"
Nesse momento percebeu que teria que pedir algo. Estava cercado. Disse rápido, sem pensar muito -"um chope"- e foi isso que veio do garçom. Talvez o pior chope de sua vida. Primeiramente, o copo não veio cheio até o topo, sentiu como se estivesse quase na metade. Provou o chope, o gosto de gordura estava em tudo, até na cerveja. Percebeu que o copo não havia sido lavado. Enojou-se. Não beberia o resto. Começou a reparar no lugar, os lustres, algumas coisas penduradas nas paredes, a iluminação fraca e mal colocada, o chão engurdurado, a porta velha, as atitudes nojentas do homem atrás do balcão, a quantidade de bêbados entrando e saindo.
De repente, em meio a tantos pensamentos, com uma cara um pouco pasma, um pouco enojada, é acordado por uma voz bem no fundo de sua mente.Olha para o lado, a mesa inteira estava olhando para ele. Simplesmente, havia passado uma hora, e ele continuara quieto. Começaram a interrogá-lo: perguntar se estava tudo bem, se tinha acontecido algo, se tinha gostado do lugar, o que gostava de fazer... algumas perguntas, apenas concordou, outras, parou para pensar e não sabia responder, estranhamente, as mais pessoais eram as mais difíceis. Não aguentou mais. Estava pagando caro demais por um lugar tão ruim.
O atendimento era um lixo, a comida era terrível, o chope parecia velho, a companhia era idiota. Cansou-se. Levantou sem se despedir e foi rumando para casa. Se arrependeu momentaneamente, quando passou pelo carro de Carlos. Não receberia mais a carona, talvez nem falassem mais com ele no dia seguinte, mas este não lhe preocupava. Olhou para o relógio. Seu próximo ônibus seria em uma hora, não arriscou ficar esperando e acabar os reencontrando. Acendeu um cigarro, o primeiro do dia, e foi andando para casa, derrotado.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Maldita sorte - uísque parte 2

Acorda com dores. Sente-se como se a cama o tivesse mascado enquanto dormia. O uísque da noite passada, que encantava sua cabeça, hoje despedaça todo seu corpo. Levanta quase que sem forças, às seis da manhã. Percebe como fora estúpido. Teria de trabalhar, mas como, naquele estado deplorável. Caminha para o banheiro quase que por extinto. Pensa o mínimo possível no caminho. A mão levada a testa, a boca levemente contorcida. Os pés, mais se arrastando do que andando. Era um corpo vazio que estava alí. Ele não, havia morrido na noite anterior. Só acordaria na próxima.
Abre a torneira com um gesto tão morto que toda a casa estremece perante sua imagem. Os olhos ainda fechados encaram o espelho. Mexe no cabelo procurando um rosto conhecido. Não encontra. Mal se reconhece. Joga água no rosto, uma, duas vezes e se olha novamente. Nenhuma mudança. Pensa em encarar o chuveiro. Desiste. Se olha mais uma vez no espelho. Dessa vez, não no espelho da pia, onde só via sua face; se encara num espelho maior, preso à parede, de onde via todo seu corpo. Se estranhou por inteiro. Imaginou como seria se sua imagem fosse refletida de cabeça para baixo, talvez se sentisse melhor.
Pensou algumas vezes antes de por a roupa para o trabalho. Pensou sobre quantos momentos estaria perdendo no mesmo e quanta coisa nova poderia descobrir em um dia longe daquela bendita empresa. Oscila entre ir e ficar. Pensa em ligar para alguém para saírem, tomarem uma cerveja e conversarem sobre relacionamentos, futebol, coisas da vida. Pega o telefone, abre a agenda, não tem ninguém. Ri quando descobre que o único número que ainda guarda é o de sua mãe, que nem sabe se existe. Começa a digitar o telefone dela, mas pára no meio. Se, depois de anos, ligasse assim, do nada, a velha poderia pensar que acontecera alguma coisa. Resolve se embreagar sozinho. A ressaca já quase esquecida, ou acostumada.
Pega sua carteira, uma roupa esportiva, chinelos e se encaminha para fora de casa. Bate a porta. A mesma do dia anterior. Dessa vez, sem medo. A saída é tão mais fácil. Cruza a primeira rua, vira a esquerda, vê passar seu ônibus. Acena para o mesmo e sorri. - Perdi- pensa. De repente escuta o freio do mesmo passos atrás dele. Era seu colega de andar, Silvio. Acena, Silvio corresponde e grita -"Vem, vem! vai perder seu ônibus"-. Sorri. Pensa em como a vida é injusta. Entra no ônibus. Dentro de 20 minutos estará em seu trabalho. Maldita sorte.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A porta - Uísque pt.1

Não abriu a porta. Parou, como se a admirasse. Na verdade nem pensava na porta, mas no que havia do outro lado. Se atravessasse, estaria em casa, a salvo de todos, ou quase todos, mas estaria só com o seu maior inimigo. Oscilou. Poderia dar mais uma volta pelo bairro, ver se encontrava alguém com quem conversar, um bar inda aberto, com seu dono já bêbado. Depois chamaria um táxi e voltaria para casa. Só para reencarar o mesmo tormento, mais uma vez, talvez mais bêbado, talvez mais só.
Oscilou mais um momento, ele e a porta. Por um instante pareceu que a porta que o encarava que decidiria se a ele seria ou não permitida a entrada. Segundos depois a porta se abriu, mais por vontade própria que por vontade dele. Entrou, acendeu a luz. Nada havia mudado. Sorriu. Estava em casa, saudado pelos móveis, pelas conquistas, abraçado pela solidão. Não tardou a sentir medo, maior, talvez, que o medo antes de entrar. Menor, por já estar lá dentro. Agora, mesmo que saísse, já havia entrado. Já havia provado do veneno do lar. Estava novamente amaldiçoado, novamente extraviado por suas paredes, suas lembranças.
Sentou. Já não era mais nada. Seu rosto parcialmente iluminado pelo abajur, seu reflexo na televisão desligada, sua sombra no sofá. Cada imagem de si o assombrava. Só, ele, o copo de uísque e o cigarro. A música ao fundo parece trilha sonora. Acompanha cada rastro de destruição, como faria um psicótico à vítima beirando a morte. Poderia dizer que se sente mal, mas sua seriedade nega esta afirmação. Também não estava pensativo, apesar de demonstrar o mesmo. No fundo, estava aflito, tinha um problema inventado em suas mãos. Criado, parte por sua lucidez, parte por seu pessimismo. O problema dos problemas inventados, é que não têm solução, a não ser desinventar, mas a dor do desinventar tiraria a causa do problema, que por mais que seja problema, por muitas vezes é solução.
Acende mais um cigarro. Foi um bom domingo, como todos os dias bons. Terminou a inútil reflexão com a frase: "só mais um copo e eu vou dormir." E assim o fez, para mais uma noite difícil. Ou assim seria , não fosse o poder sedativo do uísque. Revira-se um pouco. Quase levanta para mais um copo, ao fim, desiste. Nem reflete, nem adormece. Encara o teto. O efeito do uísque cada vez mais forte, sorri. Dorme.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Apague-me de sua memória. Se não se importas, não finja. Deixe ser. Deixer ser.
Se não me quer nas fotos, não as tiro. Se não me quer nos momentos, não existo. Podes seguir sem mim, não te encomodo mais.
Não percebi que não me gostava, só achei que ainda não fosse você mesmo comigo. Não te atrapalho mais. Nunca mais. Só acho que poderia ter me dito de outra forma, uma que fosse direta, porque a subintenção dói demais.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

sobre esquecer e relembrar

Prometo que não vou te esquecer. Vou te guardar no lugar certo, te aconchegar em meus pensamentos. Lembrar de você por algumas semanas, quem sabe sentir saudade num dia frio, lembrar de você por um filme, uma música, um poema, uma cor.
Com o tempo, não vai ser mais você; vai ser o sentimento que eu guardei. E ele não vai mais ter pessoa, nem gesto, nem tamanho, nem cor. E vai resguardar-se de saudade e problema. E vai se aconchegando, doendo sem nome, sem dono. E eu vou sentindo e vou sofrendo, e não entendo, e choro. Me reviro procurando assemelhar algo a ele.
E dentro de mim chora, como bebê que quer a mãe, mas eu não conheço sua dona.
E se afoga e morre. Naufraga. Agora, vaga vazio, sem dono. Logo se assemelha a alguém mais e eu nem lembro mais que já havia sentido aquilo tudo. Mas um dia tudo volta e como volta. E eu lembro de tudo. E lembrei do dia que a gente foi na festa de setembro, no barco viking. Que você ficou com o Paulinho e não comigo. E da gente dançando no carnaval, e dos jogos de totó. e do quanto eu queria ter te beijado. e do quanto eu queria namorar com você.
Lembrei do dia que fui me despedir de você na sua casa e levei um desconhecido pra lá e de como foi saber que você ia embora, e de querer chorar e não conseguir. E lembrei de quando você se foi.
Lembrei do dia que a gente se reencontrou depois disso, e parecia que você não era você que não era você que não tinha você. Tudo mudou. Eu criei uma imagem de você que para mim era como uma mãe. E me acolhia, e me amava e me varria de todo o mal. Você não era meu perdão, nem minha tábua nem minha mãe, nem minha luva. Você era você. Amiga de longa data sumida, seca e pálida pela viagem. Cansada desse meu mundo, desse meu rosto, desse meu cansaço. E já nem me reconhecia. Eu acenava para você e para o vazio, só este último respondia.
Relutei umas semanas e aqui estou. Nem sei pra que lado é a sua casa, mas sigo. Lembro que brincávamos por todos esses caminhos, eu e você. Ou o que era de você que não restou. Quanta inocência era viver naquele amor. Saudade dos tempos que não havia perigo em se aventurar. Lembro do caminho, do portão, da casa, da chuva, do choro, do sorriso. Da voz rouca. Nossa, eu adoro sua voz rouca. Lembro de como meu coração batia forte por você e quando lembro ele bate forte. Sinto a vontade de te amar de novo, de ver de novo, sentir seu cheiro, seu sorriso. Lembro do seu aparelho e do algodão doce que agarrava no seu aparelho e eu queria tirar, mas nem sabia como.
Lembro do ar daquela noite e da felicidade que era pra mim só estar do seu lado. E eu acho que nem sabia beijar naquela época.
Lembro da sua irmã. Não sei porquê, mas eu acho que eu achava que não podia ser amigo seu e dela ao mesmo tempo, porque senão ia parecer que eu queria namorar as duas, e ela era bem mais fechada que você e eu não sei porque eu achava ela engraçada e não sabia conversar com ela, porque eu falava com ela pensando em você e me achava um idiota por me achar um idiota de falar sobre você com ela. E não importava o que ela respondia, eu queria falar, não ouvir. E eu nem conversava com ela de verdade.

Que saudade da saudade de você. Será que ainda tem meu telefone ?

já chego

Eu vou como quem vai a algum lugar
Como quem tem alguma coisa pra achar
vou com minha garrafa entre o peito
e a marmita debaixo do braço, em um jornal enrolada.

Eu vou como quem tem pressa de sair
como quem tem tempo pra chegar
Corro como se estivesse adiantado para o trabalho
Vôo como se fosse peixe
Nado, pássaro.

Ando distraído como o homem que tem que voltar para o trabalho.
Compenetrado como o bêbado
Cambaleante como o executivo

Eu vou como quem vai de carro,
sentando de banco em banco
Nesse ônibus apertado
Do lado de um homem de laço vestido e tamanco,
da dona de casa afoita pra fazer o almoço
e das sacas de compra da feira.

Chego cansado como quem acabou de acordar
Apressado como quem vai pro bar
sento relaxado como quem chega à trabalhar
E descanço no encalço de quem quer se apressar.

Ah! eu vou
vou e nem ligo
e se me ligas desligo
não to com tempo pra falar não
to correndo pra chegar atrasado
já to fadado a perder
Perder o emprego, a mulher, os filhos, a alma.

Corro contigo
Chego primeiro
e logo depois chega eu de novo
como que num dejavú metafísico da minha inconsciência

Devo ter pego o ônibus errado
acho que isso aqui não é o Grajaú

Amanhã já estou atrasado.

domingo, 15 de agosto de 2010

A vida pode ser ruim

Quem sabe eu esteja certo, e nada dê certo e eu acabe só
Se for pra ser, quem sabe se aprendo, se a vida é ruim
Talvez eu veja que vou me enganar
por acreditar que virás para mim,
mas quem sabe se dentro do não tem um sim.

"Todo o meu tempo perdido trago na palma da mão, dentro dos olhos cansados, no fundo do peito, na pele, na voz, na canção"
Vem e me encontra, me encontra hoje que estou morrendo de saudade. De medo de verdade, de quem sabe que pode estar enganado, de quem sabe que a vida é ruim. Tô com medo de não ver esse dia de euforia de luz. Mais medo ainda de perder as cartas, as noites macias as juras de amor sem fim. Beijos sem fim. Mas espero que a verdade chegue avassaladora, como uma onda estoura nas pedras de ressaca, sorrindo pra mim.
Será que to me enganando achando que vem ?
Quem sabe eu ache que é certo estar correto e errar.

http://www.kboing.com.br/zelia-duncan/1-1048282/
Às vezes tenho que me ocultar. Vender uma mentira com uma voz mais grossa pra parecer verdade e fingir que não to gostando.
Às vezes tenho que me esconder pra parecer que tá tudo bem,
pra parecer que eu não ligo, que eu concordo, que tá tudo certo.
Ás vezes parece que eu tenho que acreditar que tudo vai dar certo. Mas eu odeio optar no vazio.
Às vezes tenho que me esconder pra chorar enquanto rio. To morrendo de medo mas não posso te dizer.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

totalmente desinteressante.

"só sabia fazer miojo e tomar café, e ainda insistiam que minha vida era ruim"

que blasfemia. Pois eu que era a dona da vida me sentia muito bem assim. E podia viver assim por muito tempo. Contanto que não pegasse outro resfriado. Odeio ficar resfriada, mas adoro o frio. Um frio, um café, ou um vinho e uma boa compania. Nem que seja musical, porque compania não precisa ser física não. Faço das músicas de Chico, algumas noites, a melhor compania do mundo, e é, às vezes, bem mais sexual que as remelentas noites de sexo que casualmente me surgem.
Alguns dizem que só sei fumar e ler, o que é uma grande mentira, minha memória também é muito boa, gosto de ouvir música, tenho um pouco de facilidade pra escrever e meu café também é muito gostoso. Aposto como se alguém me ensinasse, conseguiria concertar um rádio antigo. Alguns dizem que nem fumar eu sei. Aí,talvez, eu já concorde. Nunca tive uma professora que me ensinasse. Nem uma mãe ou um pai ao meu lado nessa hora, mas fui tentando sozinho, devagarzinho, agora acho que consigo e para mim é o suficiente.
O tempo me fez conhecer muita gente. Me fez comer mais, fumar menos. Mas quando me irrito sou logo o inverso. E fumo, e rôo e bebo e não como. Nem fome eu sinto direito. Só vontade de beber. E encho a cara de café e livros e sinto prazer. Leio sempre que posso. Tento sempre àquilo que me ajude a crescer. A evoluir. E, mesmo quando leio um livro e dele nada entendo, o público que não lê já me parece idiota. Não entendo nada de nada, mas pareço bem melhor quando fumo um cigarro. Blasfêmia. Eles parecem bem melhores quando eu fumo um cigarro. É impressionante como as pessoas são muito mais interessantes quando não se presta a atenção nelas...

mais um dia você cansa

mas um dia você cansa de mim, faz as malas e some. Vai casar com uma canadense gostosa e ir morar em Milão. Eu vou te mandar um cartão postal de Itaboraí, com uma foto da casa no meio do nada que eu to morando e a gente vai sentir saudade de nunca ter existido. Vamos, ainda por mania, colocar dois copos de café na mesa, vamos acabar bebendo os dois e sentir saudade de com quem ouvir chico buarque.
Vamos discutir filosofia com o vento, como bêbados sóbrios que sempre fomos e o tédio vai ser mais tédio do que era.
Quem sabe um dia você volta ou eu vou.

Ainda to esperando aquele cartão postal que você disse que ia mandar de Londres, que nunca chegou. O de Paris chegou. Você fez questão de escrever em francês, e eu passei quase meia hora no tradutor do google. Você sabe que eu só finjo entender francês. Bem que quando chegou eu sorrí, até meio envergonhado por não saber ler. O próximo te mando em inglês...

Ainda to com teu cheiro na minha camisa, ou pelo menos acho que é o teu cheiro, pode ser o meu cheiro, que sempre ficava em você .-.
To com saudade.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Crônica de um sonho a dois.

... estava sentado na praça na compania de um copo de café e um amigo que eu não conheço. Estava tão longe nos meus pensamentos, que não sabia mais por quanto tempo já perdurava aquela conversa. Estava tão distante do mundo real, que nem o banco, nem o café, nem ele, existiam. Pensei por um momento em como seria bom se todo aquele silêncio fosse quebrado pela sua voz, me dando um oi e sorrindo.
Olho para o lado, ele ainda está aqui, agora me olhando assustado, como quem espera que a fática da nossa conversa seja testada. Olho para ele, penso por mais um tempo, respondo levemente um "é, cara." e dou mais um gole no café. Ele continua me olhando curioso. Sinto a vontade de falar de você para alguém. Olho para ele, dou mais um gole no café e começo. Não cito nomes e trato da história mais como se fosse uma fábula do que como se fosse minha vida. Atribuo valores a coisas que, pelas feiçoes do meu ouvinte, não passam de simples normalidades. Quando percebo isso, acho que tudo que estou falando é simplesmente idiota. Dou mais um gole no café. Conto tudo com uma perspicácia impressionante. Detalhe por detalhe, transformo a história em algo tão palpável quanto o meu copo de café. Tento transbordar toda a emoção que sinto pensando naquilo quando falo.
Ao final de um, talvez longo, diálogo olho atentamente para os olhos de meu ouvinte, que mais parecia minha vítima à essa altura, e ele, com sua mente como a de todas as pessoas normais, fica perplexo por como eu transformei em algo tão grande algo tão simples. E me faz perguntas que eu não queria responder, e eu respondo tudo com velocidade e desânimo. Termino o café e sento numa posição mais confortável, esperando a pergunta que eu quero responder. Me sinto egoísta de não dar valor as outras, mas elas, naquele momento, realmente não tinham valor. Finalmente ela chega, como um relampago entre as nuvens "e se ela um dia resolver te deixar ?" Suspiro, fecho os olhos e volto para o meu sonho, onde foi a última vez que escutei essa pergunta...

"Acordei, vestí minha roupa de todo dia e saí de casa. Tive um dia normal, com pausa para o café com bolo, como sempre. Pensei em levar algo para casa hoje. Queria te presentear. Gosto de lhe dar coisas porque você gosta das mesmas coisas que eu, então posso escolher um presente para mim, e ele serve perfeitamente para você. No caminho de casa encontro um amigo, paro para conversar e rio um pouco. Ele me pergunta sobre mim, falando sobre mim só falo em você. Ele se assusta, de uma forma positiva, como um verdadeiro amigo se assustaria. E me faz a tal pergunta, que, até então, eu nem havia pensado em pensar... "e se um dia ela te deixar?" No momento, me assustei, quase apavorei, devo admitir, mas com o tempo, são de minha resposta, disse: "ai, amigo, eu vou precisar de muito mais que um copo de café." Ele riu, eu rí, mas aquilo realmente era algo a se pensar. Cheguei em casa com um disco novo do Chico Buarque. Dessa vez eu tinha certeza que era o "Construção", da última, veio o disco errado no encarte certo. Entrei em casa, pelo jeito, ou você estava dormindo, ou não estava. Ao julgar pela hora, não estava. Na sala, na mesa, um recado "Fui na padaria, já volto." Lí e sorrí. Tomei mais um copo de café, comi um pão, deitei. Como ainda não havia chegado, tornei a levantar. Peguei o seu recado, virei do avesso e escreví " e se um dia eu não voltar mais pra casa?" E, talvez com um ar um pouco triste, dormí. Pela manhã, quando acordei, você já não estava. Fui na cozinha, tinha café pronto. Agradecí por você ainda lembrar de mim, olhei na sala, meu bilhete estava lá ainda. Por um momento, achei que você não tivesse mais voltado, esquecí do café já feito. Então fui ler o bilhete. Embaixo do que eu tinha escrito, você rascunhou, de caneta preta "então eu irei atrás de você. Te amo. Nos vemos a noite." E então eu ví, que minha única preocupação, é não se preocupar com nada.
Te amo.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

por hoje e por tudo.

Obrigado por hoje.

Pelo café, pela música, pelos pelos de gato
pelo carinho, o aconchego, a preocupação
a oportunidade, a felicidade, a imaginação
a indagação, a conversa, o convívio, a aceitação
a paciência, a calma, a virtude, o fumo.

Obrigado.

auto explicativo de uma conversa.

Compreendo teu medo. Até o respeito, mas o reprovo. Tentas tirar-me toda a solidão como uma máquina tampa garrafas de cerveja.

Não sou a vácuo.

Não consigo suportar o modo como tentas ocupar minha cabeça, como se não quisesses que eu pensasse. Não consigo suportar sua voz quando força para dizer algo (teoricamente) engraçado para cortar meus pensamentos. E me irrita o cheiro da sua diversão.
Sinto teu medo a milhas de você. E não importa o quão boa sejas, vai sufocar-me. Vai, duramente, sufocar-me.

Não vivo à dois

Vou sentir a dor que vais sentir quando me cansar, mas nem vou ligar, porque vou estar ocupada demais fazendo tudo o que você tentou me impedir de fazer nesse tempo que passamos juntos. Vivemos bem, sorrimos, a vida era até boa. Se eu fosse uma pessoa comum, ainda estaríamos juntas, mas você tinha tanto medo de mim e de minha essência, que tentou privar-me de mim. Não me acompanha em nada, nos meus pensamentos, minhas idéias, meu mundo avança e você fica. Mistura fascínio e medo, e na química gera repressão. E me repreendeu, agora liberto.

Não gosto de festas.

Tirou-me o silêncio e a calma, fez de tudo para me tirar do tédio, do ócio. Me fez comer mais, fumar menos, pensar em coisas que eu não havia pensado antes, como "odeio quando controlas minha vida" ou "por que me cobras tanto?". Tentou tirar-me o direito de pensar do jeito mais fácil: me tirando o tempo de fazê-lo. Mas não fico no tédio.

Eu sou o tédio.

peça velha

Agora sei porquê te amei, e antes por outro motivo fosse
mas te maquiei com tudo que quis que um dia pudesse ser
e te fiz perfeita nas cores da minha esperança
e te vesti perfeita no covil de minha alma

Te enfeitei de prantos e prodígios
e lhe fiz entendedora de cada palavra minha
transformei você numa musa intelectual
Pura vertigem

Quando o véu cai, eres só humana
Nada de novo no seu conteúdo frágil
Precisa deles mais que eles de ti
e quebra-te como ser.

Não conseguiu aceitar a verdade de ser maior
por medo de transpor os que chama amigos
e por não se deixar ser
foi apodrecendo.

Hoje, não passa de mais uma
mais um manequim na vitrine da vida
pronta para ser descartada, com roupa e tudo.

E será, assim como foi por mim

terça-feira, 27 de julho de 2010

Que saudade

Consigo te imaginar sentada aqui, com as pernas cruzadas, sua gorda magreza, sua cara de tédio que tanto me encanta. Seu cigarro, o copo vazio e aquela cara que me diz tudo sem nada pronunciar. Seu cheiro e esse jeito se encaixam aqui, neste lugar sem nome nem forma, na minha imaginação. Ás vezes te sinto tão forte que parece que vou descer as escadas e deparar contigo na sala, fumando um cigarro e apontando visualmente para o copo de café em cima da mesa, que deduzo meu. Propositalmente há um pote de açúcar colocado ao lado do copo de café, como que num gesto sacana para atiçar minha cabeça. Olho para ele e sorrio, e você sorrí, e é quase como se tivéssemos nos beijado, mesmo a uns dois metros de distância.
Pego o café e nada muda, e tudo muda. A sensação é a mesma, mas a visão diferente. O café está alí, o cheiro de cigarro está alí, mas você, não.
Que saudade.

vingança

Oh lampião sombrio que atordoa minh'alma. Que faço eu para fugirdes de mim ? Eu, que cruel nunca fui para com seus semelhantes e sempre tratei bem dos assuntos da falange, hoje me pego sufocado nos reinos de teu cangaço. Humildemente peço que se retire do meu espaço e meu apego, pois que já não aguento mais teu cheiro romantizado. Cuspo mesmo sobre o prato que comí. Sem apego e sem pena. Desejo mesmo é que morra todo esse sentimento, seja soterrado em mágoas. Pois que já não quero mais tamanha reminescência de um pranto que nunca houve.
Lhe devolvo então todo o amor que há vomitado em mim. Regurgito-lhe ódio antigo. Não o suficiente para odiar-te ou afastar-te de mim, somente a quantidade ideal que me lave a alma e me deixe leve. Movo-me descoordenadamente por entre teus homens e mulheres transformando-os em personagens da melodia. Envolvo-os em uma explendida aurora de magia e contemplação. Tudo antes de esfaquear-lhes as costas no gesto mais egoísta da cobra.
Expulso-lhes de ti mesmo e no vazio lhe deixo, longe de ti. De ti e de tudo que um dia desejou. Domino teu cangaço. Já conheço todas as notas do teu samba antigo. A mim, não surpreendes mais. Te decorei e agora te devoro, mas nem reparas que no teu jogo, quem joga é você.

Início de semana

Viajei fisicamente como há muito não viajava. A estrada engole meus problemas. Me afasto vertiginosamente de tudo que fui. Quanto mais o carro se movia na estrada, mais paz eu sentia. Nada encomodava. Amei o silêncio. Poderia reviver o delírio da viagem eternamente. A cada quilômetro, um problema a menos. Era como se as rodas amassassem tudo que sinto no e deixasse para trás a carcaça morta de meus temores. Assim rumava.
Primeiramente, não tinha destino. Ia para qualquer lugar que fosse, contanto que a estrada não acabasse. Prolonguei a estrada. Prolonguei a estrada por densos caminhos para que pudesse me sentir assim por mais tempo. Para que durasse. Para sentir a paz habitando meu apertado peito. Respirei sem medo, como se fosse uma criança despreocupada. Era simples e vivo e me continha em ser. Era completo no vazio. Ermo e completo. Intordoável a cada volta da roda que me afastava cada vez mais dos meus problemas. Voava. Voava pelo asfalto como voam os pássaros que migram. Hibernei, agora acordava.
Não havia melhor sentimento e corria o carro. Corria ! Nada estava em seu caminho. Acelerou-se, guiou-me, não havia medo, não havia nada. Só a rua e eu. A paz da solidão tranquila.
De repente o carro para. É o fim, chegamos. Momentaneamente tudo volta a ser o que sempre foi, os problemas, os medos, as dores, tudo. Talvez eu não deva ficar parado.

terça-feira, 20 de julho de 2010

compania só

Amarga distância impotente que me separa com êxito do seu braço. Tristeza cruel que empregna todos os fios do meu cabelo e barba e fazem a dor que eu sinto pela saudade e não conhecimento parecer mais dor que o tormento doloroso de quem morre. Não sei como a possibilidade inerte de te encontrar um dia reage a minha multidão de pensamentos obscuros e irreconhecíveis. Não entendo nada de jogo da velha.
Queria poder acordar numa rede tranquila, em outro lugar do país, e encontrar-te nele, trazendo-me um copo de café, um livro ou um cerveja e celebrando a alegria de simplesmente ser comigo. Imagino-nos numa janela ao horizonte infiel, olhando curiosos as coisas que não sabemos dar nome. Afinal, o que é tudo isso senão invenção do homem ?
Aurora resplandecente, cruel de poderes infinitos que corre pela cicatriz amarga e fedorenta. Crueldade indescritível que corrói e canta e dança e se joga como louca pelo paralelo. Escorre e sangra, sangra e rí, rí quando se mata e a gente contempla da janela perplexos com a simplicidade com que a dor se dói e se rege e mata quando não há um corpo que a dor habite para sofrer. E olhamos juntos, tão próximos e colados que consigo ainda imaginar seu cheiro, ou reimaginar o cheiro teu que já havia imaginado. E parados tranquilos, pois no alto da fortaleza de felicidade, nada nos abala. Somos armadura intransponível por força e raiva. Só o simples nos toca. Só o sensível nos abala. Palavra cruel que há de morrer pelo chão diante de meus pés antes de tocar a minha sola e correr pelo meu corpo. Não há o que temer senão a volta da temeridade. E haja solo para aguentar todo o meu peso e teto para conter toda minha leveza. Segure-me gravidade, porque enquanto estiver contigo, sei voar.
Imagino tantas coisas que não sei dizer a diferença entre o que imagino e o que vivo e que grande abismo me separa, hoje, do que chamo realidade. O mundo que eu desconheço hoje devora o mundo que eu crio com uma imensa vontade de viver. É quase como se não conseguissem repartir o mesmo espaço, apesar de que pensamentos não ocupam lugar nenhum. Agora, tudo é vazio. Não há ninguém na janela. Nem eu, nem você. E me pergunto. O que me impede de não cair daquela janela ?

distância

Aquilo que hoje revela-se como flor, um dia já cresceu semente, velha e triste e apagada e morta como qualquer outro resquício de morte na vida.
Não há mais fome onde a dor da morte habita. Cálida e fria, desce úmida a gota de chuva sobre o assoalho repartido e rachado do teto de meus pensamentos. E escorre pelo corpo chageando a pele e queimando a ferida, e voltando a cicatrizá-la logo após. Só instiga meu corpo para que me sinta vivo, mas logo depois me repousa na morte. E eu não me mexo, excluindo alguns tremores de dor quando passa a próxima gota, quase como uma gota de veneno, vem destruindo minha pele, amortecendo cada gesto, cada palavra. Vem vã. Vem pura. Vem sinuosa, com vontade infinita de rasgar meu peito. Vem cheia de vivacidade, mas já vem morta. Passa por mim gelando meu corpo e meu peito. E sinto medo. Não sei se o vazio de meus pensamentos ou a multidão só que me acompanha que me deixa com medo, mas ele está alí. Fujo dele e ao mesmo tempo para perto dele e nele me perco.
Acordo sujo, mais uma gota desce do assoalho. Desce e rasga minha alma, levando embora pensamento, desejo e vontade. Aproximando cada parte do meu ser cada vez mais de um abismo sem palavras, sem cheiro. Sinto medo. Sinto medo de me afundar na temeridade. E a solitute me devora por demais. Mas estar com os outros é medo de estar sozinho. Só se conhece aquele que está sozinho. Aquele que sente sozinho a chuva que cai do assoalho, que molha sua cama, que ao mesmo tempo refresca e infarta sua alma. Que te leva devolta daqui e para cá novamente. E tudo se perde. Se perde sem sair do lugar. Porque tudo está lá e aqui, pois lá é aqui, e o que é o espaço senão a distância entre a minha cabeça e a próxima gota ?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma outra valsa

Se sabes que o lixo do luxo do bruxo que varres neste momento de nada lhe valhe
porque varres absoluto enxuto tão vil e bruto com força tremenda e cautelosa exatidão tal migalha ?
Se sentes, assim como eu sinto que sentes, o peso da vontade de fugir, porque a janela da saída lhe parece tão alcançável aos olhos, mas tão longe as mãos ?
Ó crueldade vívida, deixe-a sair pela janela já que a porta há de ter trancado com mãos rígidas de criado em fúria, que não podendo discontar no seu patrão todo seu ódio, cumpre com nojo seu trabalho, aumentando seu cansaço e sua eficiência, mas nunca seu salário.
Claro ! Lhe digo, que sabes o porque canto. É que pretendo amortecer a alma daquele que sofre com pena, e que com angústia escuta a dor da melodia. Viva como somente os mestres saberiam fazer. Fria e cálida como nunca havia de ter sido. Fervorosa e alucinante. Quase me trazem delírios de febre. Ah! Que infortúnio. Talvez, nesse tempo criado não me sobre tempo para nada. E já havia esquecido de meu propósito aqui.
Ó criado afortunado por trabalhar para tão severo patrão. Ouça meu canto lamurioso, ou lamuriante, ou como queira entender. Mas ouça bem, para que saibas a quem pedir socorro. Para que saibas a hora de fugir e para que seu coração não gele no instante de pular a janela. Escute bem, para que a janela se aproxime de tí. Não só de teus, agora tristes, olhos como também de sua fétida e suja mão, que agora se encontra na cabeça que arde em febre. Ah! Febre. Que toque novamente aquela música que me subiu o fervor. E que se esqueçam todos os servos, pois somos todos servos de um só amo, que é a morte. E para a qual todos nos encaminhamos fervorosos e cantantes. Dançemos a nossa última valsa que hoje esse servo não nos escapa. Mal sabe ele, que as grades daquele janela nunca esfriam. É fogo quente que lhe marca a alma, e em lava se alucina, sem saber o problema que lhe persegue. Que se uma vez foges de teu servo interior, nunca se encontrar pode ser a tua eterna cina.
Toque canção, toque. Toque corações apaixonados. Deixe-nos voar além das almas desvairadas deste mundo. Ah! O esquecimento. Deixe-nos todos no esquecimento. Que nada mais merecemos!

Rainha descoroada

Sou galho seco na sua visão burra
não quero abraçar sua alma imunda.
Se sente-se ofendida, comece a preencher-se de algo menos lastimoso
Porque sua essência fede a quilômetros e nada em você agrada a ninguém.

Cheia de seus quês de riqueza e exatidão
sabe perfeitamente a hora de entrar e de sair do show
mas faz do show sua vida
e como todo bom artista, fora do palco, de nada vale.

Se sabes que sua vida é como lixo
um luxo para os mais abobalhados
e um completo infortúnio da matéria para os de visão forte
que espera do mundo senão a morte ?

Será que ainda tens esperança de mudar
ou lançar-se sobre a nobre cratera da humanidade ?
Ou sua bunda já está suficientemente bem colada nessa poltrona,
onde tem seu controle de tv e seu copo de champagne sempre a disposição
que não consegue ver nada além do seu próprio umbigo?

Cheia de servos,
contemplada dos cuidados do rei
que nada mais é do que um empresário bem sucedido,
vive como rainha da própria desgraça.
Vazia como uma pedra no reino quântico.
Vaga feia, como se não lhe houvesse sentido fálico de movimento
e cruza os dedos por ser tão burra.
Sentes o medo de morrer, não em carne, mas o medo de empobrecer, e esse é maior que tudo em volta. Ah! O grande medo do mundo não girar mais à sua volta.

Queria saber como se sentiria se soubesses que ninguém sabe quem você é...

mais um texto sem sentido.

Eu te amo, por isso quero que você morra. Quero que não tenha que suportar a dor dessa vida, essas passagens ruins, todo esse desaprovo chato, essa melancolia entediada que sobrepõem-se na mesa e sustenta nossa fruteira. Quero que não tenha que sentir o cheiro fétido da necessidade de ser alguém. Alguém melhor que todos que conhece, alguém rico, alguém sucedido. Quero que morra por não ter vícios, ou por fazer desse, seu maior vício. O vício de não ter vícios. Quero que não tenha que temer o mundo à sua volta, que não o compreenda como eu faço, que não o odeie como eu odeio. Mas não quero que sejas burra. Chega a ser paradoxal. Não quero que sintas a dor dos que pensam, mas quero que penses. E se pensas, se fere. Porque só quem pensa atravessa o corredor de cacos de vidro descalço. Só quem pensa sente a chaga pútrida que é a sociedade. Só quem pensa se corta n'alma pelas pessoas que não pensam. Não quero que odeie o desconhecido. Mas quero que sinta medo dele. E que esse medo lhe mate. Porque este mundo não te merece. Não viva aqui. Se existes algo melhor, morra agora, antes de nascer e deixe sua alma ir para o céu enquanto ainda é pura. Enquanto ainda não se preocupa com dores, riquezas, sofrimentos. Enquanto ainda não foi consumida por pecados e desejos. Deixe este mundo para os fracos. Deixe-nos sucumbir a essa força. Sou fraco por ser forte. E queria não ter de ser-lo. Mas o que seria de mim se não o fosse ? Não sei ser massa de manobra. Estou decaindo.

eu te amo.

Odeio o seu cheiro nas minhas roupas. Odeio cada lembrança feliz que temos. Odeio o filme que vimos juntos, odeio sua tatuagem, odeio seu óculos e sua cara de que tudo está sempre bem mesmo quando o mundo está caindo que lembra tanto a minha cara. Odeio estar perto de você. Odeio gostar tanto de tudo isso que odeio.
Adoro quando saio de casa e fico naquela insegurança se vou te encontrar ou não. Adoro e odeio te ver. Adoro e odeio você. Adoro tudo em você. Odeio tudo que me faz lembrar de você, mas odeio, principalmente, o seu perfume masculino de café. Odeio o seu lindo sorriso. Odeio as suas clássicas roupas que encaixam perfeitamente no seu estilo. Odeio seu jeito lindo de falar meu nome. Odeio o sorriso aconchegante que dá quando me vê. Odeio ter que te odiar. Mas se não te odiasse, o que sentiria ?

euemvocêcovmeue

quando estávamos comendo batatas, sentados. Eu e você nos entre olhamos e sabiamos que algo não estava no lugar. Aquele maldito cheiro de rotina impregnado em nossas roupas, em nossas falas, em nosso andar. Aquele vontade enorme de sair dalí. De revirar tudo, de ir para um lugar que não existisse. Isso e pena. Pena porque não estávamos sozinhos e não podíamos abandonar a outra pessoa.
E sentíamos, juntos, por baixo da mesa, o medo de sermos entendidos e tudo ir embora. Aquela vontade devassa de esconder um segredo nítido. Nítido nos nossos olhares, que é maior que o resto do mundo. Nítido na nossa cúmplicidade que ninguém jamais terá junto. E seguimos. Seguimos pela turva neblina de mesmices, sentados naquela cadeira velha e suja. Preocupados com despreocupações e fatigados pela vida. Nada mais importava naquele momento a não ser o término dele. Não tinha mais necessidade de estar alí. E só a gente entendia aquele sentimento.

E o que explicar para os outros de algo que só a gente entende ? De algo que está tão na cara que não precisa de explicação. E vem a pena dos fracos de espírito, que não conseguem sentir no ar a presença forte da necessidade de sumir. Sumir de tudo, sumir impreterivelmente da vida de todos. Isolar-se. Consigo imaginar-nos longe de tudo. Em um lugar sem cor e sem nome. Próximos um do outro, mas longe de sí mesmos. Cada um com pensamentos tão esvaídos, que talvez só você possa acompanhar. Não tenho mais nome para você. Não precisamos mais nos chamar. Ultrapassamos as cordialidades da vida. Já não preciso mais te entender para te entender. É estranho explicar, mas sinto que sou você. E sinto isso de uma forma extremamente boa, na solidão. Quando nada mais me define. Quando tudo me definha e estou perdido. Não estou perdido sozinho. Está perdida comigo. Vê como é incrível ? Essa solidão conjunta. Eu comigo, você com você. Trancados num mundo sem saída e sem respostas. Perdidos em abismos irreveláveis e inertes. Complexos no seu paralelismo rígido. E quando não encontro uma saída. Encontras por mim. Diz aquilo que eu não sei dizer com palavras que eu procurei encontrar. E somos assim, completos em sí.

domingo, 18 de julho de 2010

o que sinto do que sinto de quem sente

Sinto uma figura magoada em meu peito
e é como se eu precisasse chorar
Mas nada disso é sentimento meu, não hoje.

Sinto uma solidão minha que não é por mim
e uma tristeza estranha que não me deixa triste.
É um vazio estranho, que ao mesmo tempo cala e abandona.

Sinto um medo do medo de não ter medo
e um vazio que não é ruim.
Me sinto culpado por não me importar em estar assim
por não sofrer por sofrer, ou chorar por chorar.
Tenho culpa por sentir culpa de não ter culpa ?
Sou um erro por ser certo quando erro ?
Devo sentir pena por não sentir pena de mim mesmo ?
Sou tão rígido que nem a mim sei fazer sangrar ?

Aquilo que não entende corre afugentado
aquilo que entede, entristece, lhe dói a dor que não sinto.
Se não sinto, por quê sentes por mim ?

Não sei o que deveria sentir,
não sei nem o que estou sentindo,
mas sei que não deveria soar como essa indiferença
de quem não gosta de nada.

eu por mim

Vago ferozmente por universos intransponíveis
já me perdí tantas vezes por estes caminhos
que nem sei mais o que sou.

Sigo viajando sozinho como se nada nesse mundo soubesse me fazer compania
Me encluo em grupos que excluo rapidamente
não sei mais viver em bando.
Mal sei viver a dois.

sinto saudade de alguma coisa que eu nunca conhecí
e a fronteira entre o que eu sou e o que eu acho que sou pode ser maior do que imagino
não sigo mais caminhos, ando em círculos
perdido num mundo de idéias que não fui eu quem teve.

Estático riacho, morto, inundado
afoga todos os meus contentamentos
me tira o fôlego da alma calma e inerte
e me transforma em comida de peixe

Furacão vadio humano e desumano que assola as correntes do dia a dia
gente feia, gente velha, gente pútrida
Quantidade enorme de carne viva em decomposição
falha aos meus olhos quando penso
Não vejo as pessoas.

Não sinto as pessoas

nem quero as pessoas.

Para mim tudo é vazio
nada nem ninguém se mexe com precisa exatidão
e todos estão parados
e quem se mexe sou eu
Me movimento entre pilhas inúteis de ex-futuros-soldados
procurando alguém que não esteja fardado e que possa me ajudar.

Não sinto medo da carne que come a carne que come a carne.
sinto medo da carne que mata e não sente. Da carne que não pensa
sinto medo desse bando de macacos que nada fazem
filhos do circo, amantes do circo.
Sinto medo dos macacos de terno que vão ao trabalho
aqueles que nada sabem

Sinto medo de mim por sentir medo do meu similar
eu, que não me pareço com nada.

[insira um título aqui]

Já faz um tempo que eu não escrevo nada real aqui. E às vezes é muito estranho o fato de que, quando penso em postar aqui, me sinto mal. Não mal como se fosse uma coisa ruim, mas estranho. Lembro quando montei esse blog, ainda era um adolescente querendo expressar minhas idéias. Falei sobre anarquia, sobre corrupção... Hoje não sou mais isso. Acho que alguma revolta dentro de mim morreu. Deu espaço para outras revoltas crescerem... Desde que comecei a escrever aqui muita coisa mudou, e graças à esse blog eu percebo como elas mudaram. Por isso acho, ou melhor, acabei de descobrir, enquanto compunha esse texto, que não é hora de abandonar isso aqui ainda, porque é aqui que eu me acho quando não sei mais quem sou...


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Minha vida anda muito simples. Por simples, entenda monótona, chata, fraca. Gostaria de ainda estar com ela, mas não vejo a menor necessidade nisso. É como se o pouco que vivemos juntos fosse o suficiente para que eu soubesse que ela não precisa de mim tanto quanto eu precisaria dela. Não quero que ela viva no esforço. Agora o problema já nem é mais esse. Não sinto falta dela, mas sinto, novamente, falta de alguém. Alguém que não tem nome, não tem cor, não tem cheiro. Alguém que não existe. É como se eu estivesse para conhecer uma pessoa que ainda não foi criada. Uma pessoa que habita o meu mundo ideal. Uma pessoa que, quando eu bater o olho no mundo físico, saberei que é a mesma pessoa do metafísico e ficarei encantado. Infelizmente, não posso ficar aqui esperando aparecer uma pessoa que eu nunca imaginei, mas sempre conhecí. Tenho que seguir em frente, mesmo sem foco. Mas até seguir em frente se tornou complicado, já que não sei qual caminho estou seguindo.
O que é a direção quando todos os possíveis caminhos te levaram exatamente para o mesmo lugar ? Sei o que não quero seguir. Sei exatamente o que não quero fazer. Não quero depender de ninguém. Só depender dos meus pais já me irrita profundamente, imagine ter que depender de outras pessoas. Ficaria enojado.
Acho que preciso escrever outro texto.... este já está morto.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

engenheiros do hawaii

"eu me sinto um estrangeiro,
passageiro de algum trem
que não passa por aqui
que não passa de ilusão"

Onde está você ?

Onde está você ?
Você que não se encontra por calado
você, cujo mundo de vaidades e de sonhos
já corroeu a essência

Quem é você ?
Carne pútrida e morta
inóspita inabitada
Sangue sujo, repisado

O que quer você ?
Sugador de sangue
zumbí
animal quadrúpede asentimental.

Vindimador de cebo acéfalo.

Colha seus pecados, Ó desconhecido empilhado
Colha seus pedaços, Ó perdição descaminhada
Junte seus restos e se descubra
você que já não é nada, mas pensa que tudo tem

O que sabe você de você mesmo ?

estou a vir

Estou a vir por trilhos desatentos
sem apego, sem festejo.
Sorrisos, passo longe
não se pode calcular a dor daquele que sorrí.
- Quem muito rí, muito esconde. -
Não costumo aceitar falsidade,
a não ser a minha própria
falsidade lavada, escarrada.

Não estou aqui para ver o circo pegar fogo
mas para entender o porquê existem essas chamas
está tudo em você.
O circo
O fogo
O calor das chamas
O motivo
tudo está esvaecendo.
Você acabou de perder as respostas para as perguntas que eu estava prestes a fazer.
PREPARE-SE
estou a vir.

A felicidade está dentro de cada um !

A felicidade está dentro de cada um ! - texto de Roque Lamenza Júnior

Viva cada momento como se fosse único ! Não tem nada mais bonito que o sol da manhã, nada mais incrível que o silêncio da noite. Conheça pessoas novas, não se preocupe, não pense no futuro. Viva cada momento intesamente, aproveite o melhor de cada segundo. Ande, corra, caia, mergulhe, se afogue, quase morra, ligue para sua mãe bêbado, a diga que a ama, diga que está tudo bem. Beba, fume, tente se matar. Conheça pessoas novas, goste de pessoas novas, encontre coisas novas. Se arrependa, odeie as pessoas que conheceu, finja que não conhece ninguém. Abrace todo mundo. Pague um almoço para um desconhecido, pague o almoço para um conhecido. Deixe alguém pagar seu almoço. Vá no cinema, ria no cinema, chore no cinema. Odeie o cinema, reclame no cinema. Pule. Pulse novamente. Grite. Reclame de quem grita. Reclame de quem reclama. Reclame de você. Faça coisas sem pensar nas consequências. Se arrependa de tudo, se arrependa de ser burro, escreva todos os seus arrependimentos e ria deles numa mesa de bar anos depois... Seja feliz. Compre uma cerveja, beba cerveja, derrame cerveja, reclame de quem derrama cerveja. Peça outra cerveja, busque uma cerveja para alguém. Tome a cerveja de alguém. Negue uma cerveja. Aceite algo de um estranho. Conheça aquele estranho, negue algo de um estranho. Viva. Não importe o que custar, seja feliz. Corra pelado, ande de skate, caia de skate, NÃO CAIA DE SKATE PELADO. Sorria. Pule de um telhado, quebre uma perna, chore de dor, reclame da dor. Reclame de ninguém ter filmado. Se afogue, sinta medo. Ligue para alguém que você odeia. Se declare para a pessoa que ama. Se declare para a pessoa que não ama. Se arrependa. Se declare para um desconhecido. Dance uma música que goste, dance uma música que não gosta, dance algo que não saiba dançar. Fale coisas sem sentido. Coma papel. Coma carne, vire vegetariano..

APROVEITE A VIDA !

E LEMBRE-SE. TUDO VALE A PENA. NÃO DEIXE DE VIVER POR MEDO. SEJA TUDO O QUE QUER SER. NÃO PENSE NO QUE OS OUTROS VÃO PENSAR DE VOCÊ. TUDO VALE A PENA. TUDO VALE A PENA. FAÇA SUA VIDA SER INESQUECÍVEL. COMECE AGORA.
ela acaba.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

semana

Apague-me assim
Antes que eu me apegue.
Me deixe ser assim
Antes que eu me transforme.
Sente-se aqui,
e converse comigo.
Antes que eu me levante,
seja meu amigo.

Amanhã desisto de tudo
e na terça devo recomeçar.
Quarta-feira estou bem de novo
e na quinta pronto pra outra.
Não duvido que até o fim da semana
serei a vitima, o herói e o bandido
estarei contente, triste e ferido.

Próximo mês penso em viajar
Não sei para onde ir nem o que levar.
Não queria sair de casa
queria poder sair de mim.
Deixar meu corpo por um tempo
só para esquecer um pouco dos meus sentimentos,
minhas dores, enfim, esquecer um pouco de mim.

Pequena poesia sobre mim.

Passo, como passam os rápidos que não são notados.
Minha presença nem sempre é boa, nem sempre é válida, nem sempre interessa.
Não sou interessante. Não pretendo ser interessante.
Nada nessa vida me faz pensar que as coisas um dia realmente iriam melhorar.
Sou o que sou.

Não me arrependo de nada que eu fiz, de nada que eu disse.
Não me arrependo de nenhuma das minhas escolhas, nenhuma das minhas incertezas.
Não me arrependo de ter me apaixonado, de ter chorado, de ter amado e desamado.
Não me arrependo de voce.

Nada me fará pensar que erramos.
Nada é errado.
Nesse mundo em que estamos
não existe um conceito parado.
Somos parte de um conteúdo débil e frágil
E caímos em um abismo, submundo
Numa queda ágil,
para um poço profundo

Estou de passagem e nada tenho a acrescentar
Sou parte da paisagem,
talvez uma miragem,
quem sabe eu nem faça parte da peça.
Quem sabe eu esteja perdido.

Nada disso mais me interessa.
Nada mais me resta,
meu mundo anda vazio.
E não posso mais contar com voce para completa-lo.
Não posso mais ferir ninguém. Não uso mais máscaras.
Nessa guerra o único que morre sou eu.
Frio e gélido como a noite.

Esse sou eu.
Cicatriz inexistente que escorre nas veias do lutador.
Não sou feliz, não pretendo ser feliz.
Sou o que sou e de mim não abro mão.
Espero que um de nós consiga algo melhor.
Espero que voce. Porque eu, sou o nada.

Poeira, Poeira
nova sensação de perda que exagera
Ja perdi meus sentidos e me sinto perdido
nada nessa vida me leva de volta ao ponto de partida.
Nada me traz vontade de cruzar a linha de chegada.
Quero morrer no meio do caminho
não vou atngir meus objetivos.
Minha velhice não vai ser boa.
Meus netos não vão gostar de mim,
e a solidão que eu sinto vai aflorar com o tempo.

Não sei se me casarei um dia
não sei se sou merecedor de tal fato
ou seria de tal fardo?
Não estou pronto ainda para aceitar uma alegria inconstante como essa.
Não estou preparado para lançar algumas palavras.
Todos querem me ouvir, mas eu não posso falar.
Eu sou o nada.

sábado, 27 de março de 2010

sem titulo

Meus amigos jah nao me alegram mais. Nao me sinto mais incluso em grupo algum... Minha maior alegria eh estar com aqueles que nao me compreendem e que eu nao compreendo. Me divirto muito mais com pessoas mudas, com coisas sem vida ou com vida sem razao. Ultimamente, meus melhores amigos tem sido, nao aqueles que querem me divertir, nem aqueles que querem se divertir comigo, mas aqueles que eu tenho que divertir; e nao estou falando sobre pessoas. Meu melhor amigo, hoje, eh o cao. Mas nao um cao especifico, desses que a gente da nome e da banho e cria num apartamento e carrega pra onde a gente quer ir quando os "levamos para passear". Estou falando dos caes de rua. Aqueles maltratados que ninguem da valor. Que sao chutados de lojas, que sao enojados pelas pessoas que eu tanto enojo.
Seria uma crueldade se nesse texto eu nao expresasse meu verdadeiro sentimento sobre tudo e todos, mas, infelizmente, nao estou em um bom momento para sentir coisa alguma.

domingo, 7 de março de 2010

abismo mental

Me sinto mais fraco a cada dia quando acordo. Eh como se minha vida tivesse se tornado uma grande doen;ca incuravel. Sinto minha felicidade, minha destreza, minha inteligencia, meu reflexos, todos se esvaindo lentamente. Tento segurar-me, mas minhas maos parecem peneiras. Tudo passa por elas com uma velocidade reluzente, e uma vez que tocam o chao, apodrecem e morrem com a mesma velocidade com que foram criados. Me sinto no fim, me sinto no chao.
A primavera acabou solenemente, e o verao passou como um raio sobre minha mente. De repente me pego, novamente, pensante, meio atordoado da batida. Minha cabe;ca ainda esta na noite de ontem, me pergunto se ela existiu. De algum modo meus pensamentos, minhas lembran;cas, minhas memorias, jah nao parecem mais ser minhas. Como se em algum momento do percurso eu tivesse me perdido. Como se esse corpo nao fosse meu, essa vida nao fosse minha.
Talvez, em algum momento eu deva ter me perdido de mim, e agora, eu nao sei mais quem sou. E nao eh que eu me sinta como duas pessoas diferentes, o que eh mais estranho, eh que eu nao me sinto como ninguem. Quando digo isso nao procuro comparar-me ou igualar-me, pretendo simplesmente achar-me, conseguir definir-me talvez ainda seja pedir demais, mas pelos menos sentir-me. Saber que ainda existe algo dentro de mim que responde. Me sinto como uma pedra oca. Tenho aparencia rigida e forte, mas sou vazio e incompleto. Nao sei o que falta em mim. Nao sei do que preciso, nao sei o que quero ou o que deixo de querer. As coisas, cada vez mais, perdem o valor para mim. Meus livros, meus textos, meus sentimentos, as pessoas a minha volta. Cada vez preciso menos de cada uma dessas coisas, e cada vez mais tento substitui-las com algo que me aproxime de mim. Me sinto cada vez mais fechado em um mundo que eh soh meu. E nao consigo mais me sentir a vontade fora desse mundo. A realidade, agora, me parece fic;cao, e a fic;cao parece nao existir, e eu nao sei em que mundo eu vivo. E eu nao sei que lingua eu falo. E eu nao sei quem sao meus amigos. E eu nao sei quem sou Eu. Acho que esse ultimo resume todos os anteriores com uma for;ca de expressao impressionante.
Meu medo eh me perder por completo. Eh nao saber mais o que eu sou, e nisso, nao conseguir sair de mim. Eu consigo aceitar, tranquilamente, que de uma hora para a outra eu deixe de viver; morrer eh um processo natural da vida, e eu estou preparado para aceitar esse dia quando ele chegar, seja amanha ou daqui a 60 anos, eu realmente nao me importo, e nao sou eu que decido isso. Agora, nao estou preparado nem um pouco para deixar de existir. Nao posso me permitir a isso. Preciso me apegar a algo para nao me perder. Mas nao tenho mais bases, nao tenho mais onde me segurar, me sinto cada vez mais perto da queda, e sei, que se um dia eu bobiar e cair, nao tenho mais volta.

Chuvas de domingo #1

Eu nao sei o que quero, muito menos o que nao quero.
O que eu nao sou jah se tornou parte de mim. Hoje sou ideias, e nao passo de ideias. Sou um domador de uma besta, chamada Eu. Nao conhe;co os caminhos por onde ja passei, e nao fa;co ideia de para onde estou indo, mas sigo esse rumo como se tivesse a certeza de que tudo que fa;co eh certo, e de que eu soubesse onde vou parar. Na verdade nada eh planejado. Podemos nos adequar a tudo, e tudo pode nos trazer o que procuramos se soubermos olhar para as coisas da forma certa.
Nao ha nada mais que me fa;ca voltar atras. Estou desacreditado e desamparado. A rua perdeu a sua cor e seu sentido. As pessoas jah nao fazem mais tanta diferen;ca assim nessa plateia inospita que tenho na minha frente. Estou acabado, rasgado.
Nao me sinto mais tao bem em volta das pessoas. Descobri um novo mundo dentro do meu mundo. Nao me aventuro mais. Nao quero sofrer mais. Nao sei mais se devo buscar coisas que dependam de muito mais do que do meu potencial individual. Nao estou mais apto a depender das pessoas, e mesmo que estivesse, qual a grande fun;cao disso ?
Me nego a acreditar na pura existencia do amor, ou pelo menos, nao acredito mais na sua mutualidade. Entro em uma nova fase, agora adapto-me ao mundo. Nao quero mais mudar as coisas ao meu favor, pelo contrario, quero agora, mudar-me a favor das coisas.
Nao sou mais um criador de situa;coes, sou, meramente, um participador das mesmas. Minha influencia agora nao eh mais no papel principal. Essa historia jah nao eh mais minha.
Encontrei em mim, uma vida que nao ha fora de mim. Encontrei talvez, um refugio, um altar. Meu recanto no meu eu.
Nao sei por quanto tempo ainda posso me esconder dentro de mim. Nao sei por quanto tempo continuarei protegido aqui dentro. Nao sei nem se isso pode me trazer problemas futuros. Mas, por enquanto, eh o melhor que eu arranjei.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cronicas de um menino - pt 2

...E finalmente, como que num passe de mágica o menino se apaixona. E se depara com o sentimento mais profundo e mais esquisito da vida. Ele nunca entenderia o por que de seu coraçãozinho aventureiro bater mais forte por aquela menina, e dele ficar sem palavras ao ve-la.
Não havia ninguém para explicar a verdade ao menino. E mesmo que houvesse, quem seria ele para ouvi-las. Ele jamais poderia estar gostando de uma menina. Elas são bobas, elas gostam de bonecas. Ora, onde já se viu, um garoto como ele, ótimo atirador, brincando com uma menininha... Imagina o que os amigos iam falar!
E lá ia o menino novamente, trocando a bola pela garota, ou tentando jogar melhor pra se mostrar pra ela. E ela ria. Meninas são diferentes, elas já nascem sabendo do poder que tem. São muito mais inteligentes que os homens. Mas ainda ia demorar pro menino saber disso, e enquanto ele não descobria que ela sabia que ele gostava dela, ele continuava se exibindo, como bobo menino que era, como homem que ia se tornar. E assim, entre pequenos erros e presentes que deixavam ele com as bochechas vermelhas de vergonha, ele foi descobrindo o primeiro amor.

Cronicas de um menino

Cronicas de um menino - parte 1
por Roque Lamenza

"Assim, avariado, o passaro continua sua jornada, sem saber exatamente ate onde conseguiria voar. Jamais imaginaria que tal tragedia aconteceria com ele, logo com ele; que era tao belo e vivido. Mas num impeto honestamente desconhecido, Fora avariado. Era uma pedra, uma pedra nao muito grande, mas que provocou uma dor imensa. E o garoto no chao sorria, contente e vencedor. Com seu estilingue na mao como prova de sua vitoria. Na sua cabeça, tudo que podia imaginar era o sabor que teria aquele passaro na farofa, mais tarde.
O passaro, coitado. Havia perdido sua força, e ao golpe de mais uma pedra, desistiu e faleceu. Perdeu a vida, quando perdeu as esperanças. E a criança, que se sentia mais forte e mais inteligente que todos ali, foi a unica que nao sentiu ainda a dor da perda."