quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Crônica de um sonho a dois.

... estava sentado na praça na compania de um copo de café e um amigo que eu não conheço. Estava tão longe nos meus pensamentos, que não sabia mais por quanto tempo já perdurava aquela conversa. Estava tão distante do mundo real, que nem o banco, nem o café, nem ele, existiam. Pensei por um momento em como seria bom se todo aquele silêncio fosse quebrado pela sua voz, me dando um oi e sorrindo.
Olho para o lado, ele ainda está aqui, agora me olhando assustado, como quem espera que a fática da nossa conversa seja testada. Olho para ele, penso por mais um tempo, respondo levemente um "é, cara." e dou mais um gole no café. Ele continua me olhando curioso. Sinto a vontade de falar de você para alguém. Olho para ele, dou mais um gole no café e começo. Não cito nomes e trato da história mais como se fosse uma fábula do que como se fosse minha vida. Atribuo valores a coisas que, pelas feiçoes do meu ouvinte, não passam de simples normalidades. Quando percebo isso, acho que tudo que estou falando é simplesmente idiota. Dou mais um gole no café. Conto tudo com uma perspicácia impressionante. Detalhe por detalhe, transformo a história em algo tão palpável quanto o meu copo de café. Tento transbordar toda a emoção que sinto pensando naquilo quando falo.
Ao final de um, talvez longo, diálogo olho atentamente para os olhos de meu ouvinte, que mais parecia minha vítima à essa altura, e ele, com sua mente como a de todas as pessoas normais, fica perplexo por como eu transformei em algo tão grande algo tão simples. E me faz perguntas que eu não queria responder, e eu respondo tudo com velocidade e desânimo. Termino o café e sento numa posição mais confortável, esperando a pergunta que eu quero responder. Me sinto egoísta de não dar valor as outras, mas elas, naquele momento, realmente não tinham valor. Finalmente ela chega, como um relampago entre as nuvens "e se ela um dia resolver te deixar ?" Suspiro, fecho os olhos e volto para o meu sonho, onde foi a última vez que escutei essa pergunta...

"Acordei, vestí minha roupa de todo dia e saí de casa. Tive um dia normal, com pausa para o café com bolo, como sempre. Pensei em levar algo para casa hoje. Queria te presentear. Gosto de lhe dar coisas porque você gosta das mesmas coisas que eu, então posso escolher um presente para mim, e ele serve perfeitamente para você. No caminho de casa encontro um amigo, paro para conversar e rio um pouco. Ele me pergunta sobre mim, falando sobre mim só falo em você. Ele se assusta, de uma forma positiva, como um verdadeiro amigo se assustaria. E me faz a tal pergunta, que, até então, eu nem havia pensado em pensar... "e se um dia ela te deixar?" No momento, me assustei, quase apavorei, devo admitir, mas com o tempo, são de minha resposta, disse: "ai, amigo, eu vou precisar de muito mais que um copo de café." Ele riu, eu rí, mas aquilo realmente era algo a se pensar. Cheguei em casa com um disco novo do Chico Buarque. Dessa vez eu tinha certeza que era o "Construção", da última, veio o disco errado no encarte certo. Entrei em casa, pelo jeito, ou você estava dormindo, ou não estava. Ao julgar pela hora, não estava. Na sala, na mesa, um recado "Fui na padaria, já volto." Lí e sorrí. Tomei mais um copo de café, comi um pão, deitei. Como ainda não havia chegado, tornei a levantar. Peguei o seu recado, virei do avesso e escreví " e se um dia eu não voltar mais pra casa?" E, talvez com um ar um pouco triste, dormí. Pela manhã, quando acordei, você já não estava. Fui na cozinha, tinha café pronto. Agradecí por você ainda lembrar de mim, olhei na sala, meu bilhete estava lá ainda. Por um momento, achei que você não tivesse mais voltado, esquecí do café já feito. Então fui ler o bilhete. Embaixo do que eu tinha escrito, você rascunhou, de caneta preta "então eu irei atrás de você. Te amo. Nos vemos a noite." E então eu ví, que minha única preocupação, é não se preocupar com nada.
Te amo.

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