Aquilo que hoje revela-se como flor, um dia já cresceu semente, velha e triste e apagada e morta como qualquer outro resquício de morte na vida.
Não há mais fome onde a dor da morte habita. Cálida e fria, desce úmida a gota de chuva sobre o assoalho repartido e rachado do teto de meus pensamentos. E escorre pelo corpo chageando a pele e queimando a ferida, e voltando a cicatrizá-la logo após. Só instiga meu corpo para que me sinta vivo, mas logo depois me repousa na morte. E eu não me mexo, excluindo alguns tremores de dor quando passa a próxima gota, quase como uma gota de veneno, vem destruindo minha pele, amortecendo cada gesto, cada palavra. Vem vã. Vem pura. Vem sinuosa, com vontade infinita de rasgar meu peito. Vem cheia de vivacidade, mas já vem morta. Passa por mim gelando meu corpo e meu peito. E sinto medo. Não sei se o vazio de meus pensamentos ou a multidão só que me acompanha que me deixa com medo, mas ele está alí. Fujo dele e ao mesmo tempo para perto dele e nele me perco.
Acordo sujo, mais uma gota desce do assoalho. Desce e rasga minha alma, levando embora pensamento, desejo e vontade. Aproximando cada parte do meu ser cada vez mais de um abismo sem palavras, sem cheiro. Sinto medo. Sinto medo de me afundar na temeridade. E a solitute me devora por demais. Mas estar com os outros é medo de estar sozinho. Só se conhece aquele que está sozinho. Aquele que sente sozinho a chuva que cai do assoalho, que molha sua cama, que ao mesmo tempo refresca e infarta sua alma. Que te leva devolta daqui e para cá novamente. E tudo se perde. Se perde sem sair do lugar. Porque tudo está lá e aqui, pois lá é aqui, e o que é o espaço senão a distância entre a minha cabeça e a próxima gota ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário