segunda-feira, 19 de julho de 2010

euemvocêcovmeue

quando estávamos comendo batatas, sentados. Eu e você nos entre olhamos e sabiamos que algo não estava no lugar. Aquele maldito cheiro de rotina impregnado em nossas roupas, em nossas falas, em nosso andar. Aquele vontade enorme de sair dalí. De revirar tudo, de ir para um lugar que não existisse. Isso e pena. Pena porque não estávamos sozinhos e não podíamos abandonar a outra pessoa.
E sentíamos, juntos, por baixo da mesa, o medo de sermos entendidos e tudo ir embora. Aquela vontade devassa de esconder um segredo nítido. Nítido nos nossos olhares, que é maior que o resto do mundo. Nítido na nossa cúmplicidade que ninguém jamais terá junto. E seguimos. Seguimos pela turva neblina de mesmices, sentados naquela cadeira velha e suja. Preocupados com despreocupações e fatigados pela vida. Nada mais importava naquele momento a não ser o término dele. Não tinha mais necessidade de estar alí. E só a gente entendia aquele sentimento.

E o que explicar para os outros de algo que só a gente entende ? De algo que está tão na cara que não precisa de explicação. E vem a pena dos fracos de espírito, que não conseguem sentir no ar a presença forte da necessidade de sumir. Sumir de tudo, sumir impreterivelmente da vida de todos. Isolar-se. Consigo imaginar-nos longe de tudo. Em um lugar sem cor e sem nome. Próximos um do outro, mas longe de sí mesmos. Cada um com pensamentos tão esvaídos, que talvez só você possa acompanhar. Não tenho mais nome para você. Não precisamos mais nos chamar. Ultrapassamos as cordialidades da vida. Já não preciso mais te entender para te entender. É estranho explicar, mas sinto que sou você. E sinto isso de uma forma extremamente boa, na solidão. Quando nada mais me define. Quando tudo me definha e estou perdido. Não estou perdido sozinho. Está perdida comigo. Vê como é incrível ? Essa solidão conjunta. Eu comigo, você com você. Trancados num mundo sem saída e sem respostas. Perdidos em abismos irreveláveis e inertes. Complexos no seu paralelismo rígido. E quando não encontro uma saída. Encontras por mim. Diz aquilo que eu não sei dizer com palavras que eu procurei encontrar. E somos assim, completos em sí.

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