Eu vou como quem vai a algum lugar
Como quem tem alguma coisa pra achar
vou com minha garrafa entre o peito
e a marmita debaixo do braço, em um jornal enrolada.
Eu vou como quem tem pressa de sair
como quem tem tempo pra chegar
Corro como se estivesse adiantado para o trabalho
Vôo como se fosse peixe
Nado, pássaro.
Ando distraído como o homem que tem que voltar para o trabalho.
Compenetrado como o bêbado
Cambaleante como o executivo
Eu vou como quem vai de carro,
sentando de banco em banco
Nesse ônibus apertado
Do lado de um homem de laço vestido e tamanco,
da dona de casa afoita pra fazer o almoço
e das sacas de compra da feira.
Chego cansado como quem acabou de acordar
Apressado como quem vai pro bar
sento relaxado como quem chega à trabalhar
E descanço no encalço de quem quer se apressar.
Ah! eu vou
vou e nem ligo
e se me ligas desligo
não to com tempo pra falar não
to correndo pra chegar atrasado
já to fadado a perder
Perder o emprego, a mulher, os filhos, a alma.
Corro contigo
Chego primeiro
e logo depois chega eu de novo
como que num dejavú metafísico da minha inconsciência
Devo ter pego o ônibus errado
acho que isso aqui não é o Grajaú
Amanhã já estou atrasado.
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