terça-feira, 20 de julho de 2010

compania só

Amarga distância impotente que me separa com êxito do seu braço. Tristeza cruel que empregna todos os fios do meu cabelo e barba e fazem a dor que eu sinto pela saudade e não conhecimento parecer mais dor que o tormento doloroso de quem morre. Não sei como a possibilidade inerte de te encontrar um dia reage a minha multidão de pensamentos obscuros e irreconhecíveis. Não entendo nada de jogo da velha.
Queria poder acordar numa rede tranquila, em outro lugar do país, e encontrar-te nele, trazendo-me um copo de café, um livro ou um cerveja e celebrando a alegria de simplesmente ser comigo. Imagino-nos numa janela ao horizonte infiel, olhando curiosos as coisas que não sabemos dar nome. Afinal, o que é tudo isso senão invenção do homem ?
Aurora resplandecente, cruel de poderes infinitos que corre pela cicatriz amarga e fedorenta. Crueldade indescritível que corrói e canta e dança e se joga como louca pelo paralelo. Escorre e sangra, sangra e rí, rí quando se mata e a gente contempla da janela perplexos com a simplicidade com que a dor se dói e se rege e mata quando não há um corpo que a dor habite para sofrer. E olhamos juntos, tão próximos e colados que consigo ainda imaginar seu cheiro, ou reimaginar o cheiro teu que já havia imaginado. E parados tranquilos, pois no alto da fortaleza de felicidade, nada nos abala. Somos armadura intransponível por força e raiva. Só o simples nos toca. Só o sensível nos abala. Palavra cruel que há de morrer pelo chão diante de meus pés antes de tocar a minha sola e correr pelo meu corpo. Não há o que temer senão a volta da temeridade. E haja solo para aguentar todo o meu peso e teto para conter toda minha leveza. Segure-me gravidade, porque enquanto estiver contigo, sei voar.
Imagino tantas coisas que não sei dizer a diferença entre o que imagino e o que vivo e que grande abismo me separa, hoje, do que chamo realidade. O mundo que eu desconheço hoje devora o mundo que eu crio com uma imensa vontade de viver. É quase como se não conseguissem repartir o mesmo espaço, apesar de que pensamentos não ocupam lugar nenhum. Agora, tudo é vazio. Não há ninguém na janela. Nem eu, nem você. E me pergunto. O que me impede de não cair daquela janela ?

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