segunda-feira, 19 de julho de 2010

Uma outra valsa

Se sabes que o lixo do luxo do bruxo que varres neste momento de nada lhe valhe
porque varres absoluto enxuto tão vil e bruto com força tremenda e cautelosa exatidão tal migalha ?
Se sentes, assim como eu sinto que sentes, o peso da vontade de fugir, porque a janela da saída lhe parece tão alcançável aos olhos, mas tão longe as mãos ?
Ó crueldade vívida, deixe-a sair pela janela já que a porta há de ter trancado com mãos rígidas de criado em fúria, que não podendo discontar no seu patrão todo seu ódio, cumpre com nojo seu trabalho, aumentando seu cansaço e sua eficiência, mas nunca seu salário.
Claro ! Lhe digo, que sabes o porque canto. É que pretendo amortecer a alma daquele que sofre com pena, e que com angústia escuta a dor da melodia. Viva como somente os mestres saberiam fazer. Fria e cálida como nunca havia de ter sido. Fervorosa e alucinante. Quase me trazem delírios de febre. Ah! Que infortúnio. Talvez, nesse tempo criado não me sobre tempo para nada. E já havia esquecido de meu propósito aqui.
Ó criado afortunado por trabalhar para tão severo patrão. Ouça meu canto lamurioso, ou lamuriante, ou como queira entender. Mas ouça bem, para que saibas a quem pedir socorro. Para que saibas a hora de fugir e para que seu coração não gele no instante de pular a janela. Escute bem, para que a janela se aproxime de tí. Não só de teus, agora tristes, olhos como também de sua fétida e suja mão, que agora se encontra na cabeça que arde em febre. Ah! Febre. Que toque novamente aquela música que me subiu o fervor. E que se esqueçam todos os servos, pois somos todos servos de um só amo, que é a morte. E para a qual todos nos encaminhamos fervorosos e cantantes. Dançemos a nossa última valsa que hoje esse servo não nos escapa. Mal sabe ele, que as grades daquele janela nunca esfriam. É fogo quente que lhe marca a alma, e em lava se alucina, sem saber o problema que lhe persegue. Que se uma vez foges de teu servo interior, nunca se encontrar pode ser a tua eterna cina.
Toque canção, toque. Toque corações apaixonados. Deixe-nos voar além das almas desvairadas deste mundo. Ah! O esquecimento. Deixe-nos todos no esquecimento. Que nada mais merecemos!

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