Entendo fielmente o que está se passando. Mesmo sem ter sentido ou porquê. O amor é assim, entendo eu. Acontece. Simples e puro. Na mesma frequência da infância já na vida adulta. Me pego novamente remoendo meus lábios com os dentes e com aquela leve pruma de ansiedade que, quando era mais jovem, me fazia falar pelos cotovelos e não dormir. Hoje, muito mais tranquilo e já aceitando com certa parcimônia o fato de ficar apaixonado, me contento em ficar vendo e revendo mentalmente os momentos que passamos juntos. Acho que é isso que acontece quando vamos amadurecendo, não nos apaixonamos menos, apenas nos acostumamos com os efeitos colaterais da paixão.
Eu, pelo menos, estou me acostumando já aos efeitos de chegar perto de você. Porque quando você aparece no meu campo de visão, ocorre uma guerra interna que se você não percebe, estou indo muito bem nas aulas mentais de teatro. Uma perna minha começa a correr e a outra não anda, freia. Assim me aproximo: tentando me impedir ao máximo de correr, mais com medo de não conseguir parar e te carregar feito um pacote em meus braços até um lugar onde eu possa ficar conversando com você initerruptamente até eu padecer de velhice do que com medo de você perceber que eu estava correndo. E quando chego, começam as outras guerras corporais. Minhas bochechas, que até então eram perfeitamente conjugadas, começam a querer se afastar de uma forma quase que absurda, quase que pulando do meu rosto. Minhas orelhas, quase escondidas atrás da bochecha amolecem e se preparam para ouvir o tom da sua voz, aquele "oi" quase tão empolgado quanto a batida do meu coração. Esse, aliás, se transforma em baterista de death metal, quase batendo um bumbo duplo. Minhas pernas tremem, quer dizer, elas tentam sumir, quase que mandando eu me ajoelhar diante de você só para que você saiba que te idolatro.
Depois de algumas frases trocadas meu arquétipo começa a se controlar. O corpo todo pára, até meu estômago faminto desliga o vibrador para te escutar. Sua sinfonia percorre meu corpo inteiro, e a dança emana psíquica e meu sangue flui em tango apaixonado.
Dava pra passar a vida toda assim. Quieto, só olhando e ouvindo. Ah, como seria bom, poder passar a vida assim, só te olhando e te ouvindo. Falando um pouco é claro, como um gesto de cortejo para acompanhar a sua voz nessa melodia que chamamos de conversa e que nos soa contente, quase maravilhosa.
Dava pra passar a vida inteira assim esperando te ver no dia seguinte, só pra continuar assim...
Como diz o Caetano
"te espero meu bem, pra gente se amar de novo : mimar você" (8)
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