Prometo que não vou te esquecer. Vou te guardar no lugar certo, te aconchegar em meus pensamentos. Lembrar de você por algumas semanas, quem sabe sentir saudade num dia frio, lembrar de você por um filme, uma música, um poema, uma cor.
Com o tempo, não vai ser mais você; vai ser o sentimento que eu guardei. E ele não vai mais ter pessoa, nem gesto, nem tamanho, nem cor. E vai resguardar-se de saudade e problema. E vai se aconchegando, doendo sem nome, sem dono. E eu vou sentindo e vou sofrendo, e não entendo, e choro. Me reviro procurando assemelhar algo a ele.
E dentro de mim chora, como bebê que quer a mãe, mas eu não conheço sua dona.
E se afoga e morre. Naufraga. Agora, vaga vazio, sem dono. Logo se assemelha a alguém mais e eu nem lembro mais que já havia sentido aquilo tudo. Mas um dia tudo volta e como volta. E eu lembro de tudo. E lembrei do dia que a gente foi na festa de setembro, no barco viking. Que você ficou com o Paulinho e não comigo. E da gente dançando no carnaval, e dos jogos de totó. e do quanto eu queria ter te beijado. e do quanto eu queria namorar com você.
Lembrei do dia que fui me despedir de você na sua casa e levei um desconhecido pra lá e de como foi saber que você ia embora, e de querer chorar e não conseguir. E lembrei de quando você se foi.
Lembrei do dia que a gente se reencontrou depois disso, e parecia que você não era você que não era você que não tinha você. Tudo mudou. Eu criei uma imagem de você que para mim era como uma mãe. E me acolhia, e me amava e me varria de todo o mal. Você não era meu perdão, nem minha tábua nem minha mãe, nem minha luva. Você era você. Amiga de longa data sumida, seca e pálida pela viagem. Cansada desse meu mundo, desse meu rosto, desse meu cansaço. E já nem me reconhecia. Eu acenava para você e para o vazio, só este último respondia.
Relutei umas semanas e aqui estou. Nem sei pra que lado é a sua casa, mas sigo. Lembro que brincávamos por todos esses caminhos, eu e você. Ou o que era de você que não restou. Quanta inocência era viver naquele amor. Saudade dos tempos que não havia perigo em se aventurar. Lembro do caminho, do portão, da casa, da chuva, do choro, do sorriso. Da voz rouca. Nossa, eu adoro sua voz rouca. Lembro de como meu coração batia forte por você e quando lembro ele bate forte. Sinto a vontade de te amar de novo, de ver de novo, sentir seu cheiro, seu sorriso. Lembro do seu aparelho e do algodão doce que agarrava no seu aparelho e eu queria tirar, mas nem sabia como.
Lembro do ar daquela noite e da felicidade que era pra mim só estar do seu lado. E eu acho que nem sabia beijar naquela época.
Lembro da sua irmã. Não sei porquê, mas eu acho que eu achava que não podia ser amigo seu e dela ao mesmo tempo, porque senão ia parecer que eu queria namorar as duas, e ela era bem mais fechada que você e eu não sei porque eu achava ela engraçada e não sabia conversar com ela, porque eu falava com ela pensando em você e me achava um idiota por me achar um idiota de falar sobre você com ela. E não importava o que ela respondia, eu queria falar, não ouvir. E eu nem conversava com ela de verdade.
Que saudade da saudade de você. Será que ainda tem meu telefone ?
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
já chego
Eu vou como quem vai a algum lugar
Como quem tem alguma coisa pra achar
vou com minha garrafa entre o peito
e a marmita debaixo do braço, em um jornal enrolada.
Eu vou como quem tem pressa de sair
como quem tem tempo pra chegar
Corro como se estivesse adiantado para o trabalho
Vôo como se fosse peixe
Nado, pássaro.
Ando distraído como o homem que tem que voltar para o trabalho.
Compenetrado como o bêbado
Cambaleante como o executivo
Eu vou como quem vai de carro,
sentando de banco em banco
Nesse ônibus apertado
Do lado de um homem de laço vestido e tamanco,
da dona de casa afoita pra fazer o almoço
e das sacas de compra da feira.
Chego cansado como quem acabou de acordar
Apressado como quem vai pro bar
sento relaxado como quem chega à trabalhar
E descanço no encalço de quem quer se apressar.
Ah! eu vou
vou e nem ligo
e se me ligas desligo
não to com tempo pra falar não
to correndo pra chegar atrasado
já to fadado a perder
Perder o emprego, a mulher, os filhos, a alma.
Corro contigo
Chego primeiro
e logo depois chega eu de novo
como que num dejavú metafísico da minha inconsciência
Devo ter pego o ônibus errado
acho que isso aqui não é o Grajaú
Amanhã já estou atrasado.
Como quem tem alguma coisa pra achar
vou com minha garrafa entre o peito
e a marmita debaixo do braço, em um jornal enrolada.
Eu vou como quem tem pressa de sair
como quem tem tempo pra chegar
Corro como se estivesse adiantado para o trabalho
Vôo como se fosse peixe
Nado, pássaro.
Ando distraído como o homem que tem que voltar para o trabalho.
Compenetrado como o bêbado
Cambaleante como o executivo
Eu vou como quem vai de carro,
sentando de banco em banco
Nesse ônibus apertado
Do lado de um homem de laço vestido e tamanco,
da dona de casa afoita pra fazer o almoço
e das sacas de compra da feira.
Chego cansado como quem acabou de acordar
Apressado como quem vai pro bar
sento relaxado como quem chega à trabalhar
E descanço no encalço de quem quer se apressar.
Ah! eu vou
vou e nem ligo
e se me ligas desligo
não to com tempo pra falar não
to correndo pra chegar atrasado
já to fadado a perder
Perder o emprego, a mulher, os filhos, a alma.
Corro contigo
Chego primeiro
e logo depois chega eu de novo
como que num dejavú metafísico da minha inconsciência
Devo ter pego o ônibus errado
acho que isso aqui não é o Grajaú
Amanhã já estou atrasado.
domingo, 15 de agosto de 2010
A vida pode ser ruim
Quem sabe eu esteja certo, e nada dê certo e eu acabe só
Se for pra ser, quem sabe se aprendo, se a vida é ruim
Talvez eu veja que vou me enganar
por acreditar que virás para mim,
mas quem sabe se dentro do não tem um sim.
"Todo o meu tempo perdido trago na palma da mão, dentro dos olhos cansados, no fundo do peito, na pele, na voz, na canção"
Vem e me encontra, me encontra hoje que estou morrendo de saudade. De medo de verdade, de quem sabe que pode estar enganado, de quem sabe que a vida é ruim. Tô com medo de não ver esse dia de euforia de luz. Mais medo ainda de perder as cartas, as noites macias as juras de amor sem fim. Beijos sem fim. Mas espero que a verdade chegue avassaladora, como uma onda estoura nas pedras de ressaca, sorrindo pra mim.
Será que to me enganando achando que vem ?
Quem sabe eu ache que é certo estar correto e errar.
http://www.kboing.com.br/zelia-duncan/1-1048282/
Se for pra ser, quem sabe se aprendo, se a vida é ruim
Talvez eu veja que vou me enganar
por acreditar que virás para mim,
mas quem sabe se dentro do não tem um sim.
"Todo o meu tempo perdido trago na palma da mão, dentro dos olhos cansados, no fundo do peito, na pele, na voz, na canção"
Vem e me encontra, me encontra hoje que estou morrendo de saudade. De medo de verdade, de quem sabe que pode estar enganado, de quem sabe que a vida é ruim. Tô com medo de não ver esse dia de euforia de luz. Mais medo ainda de perder as cartas, as noites macias as juras de amor sem fim. Beijos sem fim. Mas espero que a verdade chegue avassaladora, como uma onda estoura nas pedras de ressaca, sorrindo pra mim.
Será que to me enganando achando que vem ?
Quem sabe eu ache que é certo estar correto e errar.
http://www.kboing.com.br/zelia-duncan/1-1048282/
Às vezes tenho que me ocultar. Vender uma mentira com uma voz mais grossa pra parecer verdade e fingir que não to gostando.
Às vezes tenho que me esconder pra parecer que tá tudo bem,
pra parecer que eu não ligo, que eu concordo, que tá tudo certo.
Ás vezes parece que eu tenho que acreditar que tudo vai dar certo. Mas eu odeio optar no vazio.
Às vezes tenho que me esconder pra chorar enquanto rio. To morrendo de medo mas não posso te dizer.
Às vezes tenho que me esconder pra parecer que tá tudo bem,
pra parecer que eu não ligo, que eu concordo, que tá tudo certo.
Ás vezes parece que eu tenho que acreditar que tudo vai dar certo. Mas eu odeio optar no vazio.
Às vezes tenho que me esconder pra chorar enquanto rio. To morrendo de medo mas não posso te dizer.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
totalmente desinteressante.
"só sabia fazer miojo e tomar café, e ainda insistiam que minha vida era ruim"
que blasfemia. Pois eu que era a dona da vida me sentia muito bem assim. E podia viver assim por muito tempo. Contanto que não pegasse outro resfriado. Odeio ficar resfriada, mas adoro o frio. Um frio, um café, ou um vinho e uma boa compania. Nem que seja musical, porque compania não precisa ser física não. Faço das músicas de Chico, algumas noites, a melhor compania do mundo, e é, às vezes, bem mais sexual que as remelentas noites de sexo que casualmente me surgem.
Alguns dizem que só sei fumar e ler, o que é uma grande mentira, minha memória também é muito boa, gosto de ouvir música, tenho um pouco de facilidade pra escrever e meu café também é muito gostoso. Aposto como se alguém me ensinasse, conseguiria concertar um rádio antigo. Alguns dizem que nem fumar eu sei. Aí,talvez, eu já concorde. Nunca tive uma professora que me ensinasse. Nem uma mãe ou um pai ao meu lado nessa hora, mas fui tentando sozinho, devagarzinho, agora acho que consigo e para mim é o suficiente.
O tempo me fez conhecer muita gente. Me fez comer mais, fumar menos. Mas quando me irrito sou logo o inverso. E fumo, e rôo e bebo e não como. Nem fome eu sinto direito. Só vontade de beber. E encho a cara de café e livros e sinto prazer. Leio sempre que posso. Tento sempre àquilo que me ajude a crescer. A evoluir. E, mesmo quando leio um livro e dele nada entendo, o público que não lê já me parece idiota. Não entendo nada de nada, mas pareço bem melhor quando fumo um cigarro. Blasfêmia. Eles parecem bem melhores quando eu fumo um cigarro. É impressionante como as pessoas são muito mais interessantes quando não se presta a atenção nelas...
que blasfemia. Pois eu que era a dona da vida me sentia muito bem assim. E podia viver assim por muito tempo. Contanto que não pegasse outro resfriado. Odeio ficar resfriada, mas adoro o frio. Um frio, um café, ou um vinho e uma boa compania. Nem que seja musical, porque compania não precisa ser física não. Faço das músicas de Chico, algumas noites, a melhor compania do mundo, e é, às vezes, bem mais sexual que as remelentas noites de sexo que casualmente me surgem.
Alguns dizem que só sei fumar e ler, o que é uma grande mentira, minha memória também é muito boa, gosto de ouvir música, tenho um pouco de facilidade pra escrever e meu café também é muito gostoso. Aposto como se alguém me ensinasse, conseguiria concertar um rádio antigo. Alguns dizem que nem fumar eu sei. Aí,talvez, eu já concorde. Nunca tive uma professora que me ensinasse. Nem uma mãe ou um pai ao meu lado nessa hora, mas fui tentando sozinho, devagarzinho, agora acho que consigo e para mim é o suficiente.
O tempo me fez conhecer muita gente. Me fez comer mais, fumar menos. Mas quando me irrito sou logo o inverso. E fumo, e rôo e bebo e não como. Nem fome eu sinto direito. Só vontade de beber. E encho a cara de café e livros e sinto prazer. Leio sempre que posso. Tento sempre àquilo que me ajude a crescer. A evoluir. E, mesmo quando leio um livro e dele nada entendo, o público que não lê já me parece idiota. Não entendo nada de nada, mas pareço bem melhor quando fumo um cigarro. Blasfêmia. Eles parecem bem melhores quando eu fumo um cigarro. É impressionante como as pessoas são muito mais interessantes quando não se presta a atenção nelas...
mais um dia você cansa
mas um dia você cansa de mim, faz as malas e some. Vai casar com uma canadense gostosa e ir morar em Milão. Eu vou te mandar um cartão postal de Itaboraí, com uma foto da casa no meio do nada que eu to morando e a gente vai sentir saudade de nunca ter existido. Vamos, ainda por mania, colocar dois copos de café na mesa, vamos acabar bebendo os dois e sentir saudade de com quem ouvir chico buarque.
Vamos discutir filosofia com o vento, como bêbados sóbrios que sempre fomos e o tédio vai ser mais tédio do que era.
Quem sabe um dia você volta ou eu vou.
Ainda to esperando aquele cartão postal que você disse que ia mandar de Londres, que nunca chegou. O de Paris chegou. Você fez questão de escrever em francês, e eu passei quase meia hora no tradutor do google. Você sabe que eu só finjo entender francês. Bem que quando chegou eu sorrí, até meio envergonhado por não saber ler. O próximo te mando em inglês...
Ainda to com teu cheiro na minha camisa, ou pelo menos acho que é o teu cheiro, pode ser o meu cheiro, que sempre ficava em você .-.
To com saudade.
Vamos discutir filosofia com o vento, como bêbados sóbrios que sempre fomos e o tédio vai ser mais tédio do que era.
Quem sabe um dia você volta ou eu vou.
Ainda to esperando aquele cartão postal que você disse que ia mandar de Londres, que nunca chegou. O de Paris chegou. Você fez questão de escrever em francês, e eu passei quase meia hora no tradutor do google. Você sabe que eu só finjo entender francês. Bem que quando chegou eu sorrí, até meio envergonhado por não saber ler. O próximo te mando em inglês...
Ainda to com teu cheiro na minha camisa, ou pelo menos acho que é o teu cheiro, pode ser o meu cheiro, que sempre ficava em você .-.
To com saudade.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Crônica de um sonho a dois.
... estava sentado na praça na compania de um copo de café e um amigo que eu não conheço. Estava tão longe nos meus pensamentos, que não sabia mais por quanto tempo já perdurava aquela conversa. Estava tão distante do mundo real, que nem o banco, nem o café, nem ele, existiam. Pensei por um momento em como seria bom se todo aquele silêncio fosse quebrado pela sua voz, me dando um oi e sorrindo.
Olho para o lado, ele ainda está aqui, agora me olhando assustado, como quem espera que a fática da nossa conversa seja testada. Olho para ele, penso por mais um tempo, respondo levemente um "é, cara." e dou mais um gole no café. Ele continua me olhando curioso. Sinto a vontade de falar de você para alguém. Olho para ele, dou mais um gole no café e começo. Não cito nomes e trato da história mais como se fosse uma fábula do que como se fosse minha vida. Atribuo valores a coisas que, pelas feiçoes do meu ouvinte, não passam de simples normalidades. Quando percebo isso, acho que tudo que estou falando é simplesmente idiota. Dou mais um gole no café. Conto tudo com uma perspicácia impressionante. Detalhe por detalhe, transformo a história em algo tão palpável quanto o meu copo de café. Tento transbordar toda a emoção que sinto pensando naquilo quando falo.
Ao final de um, talvez longo, diálogo olho atentamente para os olhos de meu ouvinte, que mais parecia minha vítima à essa altura, e ele, com sua mente como a de todas as pessoas normais, fica perplexo por como eu transformei em algo tão grande algo tão simples. E me faz perguntas que eu não queria responder, e eu respondo tudo com velocidade e desânimo. Termino o café e sento numa posição mais confortável, esperando a pergunta que eu quero responder. Me sinto egoísta de não dar valor as outras, mas elas, naquele momento, realmente não tinham valor. Finalmente ela chega, como um relampago entre as nuvens "e se ela um dia resolver te deixar ?" Suspiro, fecho os olhos e volto para o meu sonho, onde foi a última vez que escutei essa pergunta...
"Acordei, vestí minha roupa de todo dia e saí de casa. Tive um dia normal, com pausa para o café com bolo, como sempre. Pensei em levar algo para casa hoje. Queria te presentear. Gosto de lhe dar coisas porque você gosta das mesmas coisas que eu, então posso escolher um presente para mim, e ele serve perfeitamente para você. No caminho de casa encontro um amigo, paro para conversar e rio um pouco. Ele me pergunta sobre mim, falando sobre mim só falo em você. Ele se assusta, de uma forma positiva, como um verdadeiro amigo se assustaria. E me faz a tal pergunta, que, até então, eu nem havia pensado em pensar... "e se um dia ela te deixar?" No momento, me assustei, quase apavorei, devo admitir, mas com o tempo, são de minha resposta, disse: "ai, amigo, eu vou precisar de muito mais que um copo de café." Ele riu, eu rí, mas aquilo realmente era algo a se pensar. Cheguei em casa com um disco novo do Chico Buarque. Dessa vez eu tinha certeza que era o "Construção", da última, veio o disco errado no encarte certo. Entrei em casa, pelo jeito, ou você estava dormindo, ou não estava. Ao julgar pela hora, não estava. Na sala, na mesa, um recado "Fui na padaria, já volto." Lí e sorrí. Tomei mais um copo de café, comi um pão, deitei. Como ainda não havia chegado, tornei a levantar. Peguei o seu recado, virei do avesso e escreví " e se um dia eu não voltar mais pra casa?" E, talvez com um ar um pouco triste, dormí. Pela manhã, quando acordei, você já não estava. Fui na cozinha, tinha café pronto. Agradecí por você ainda lembrar de mim, olhei na sala, meu bilhete estava lá ainda. Por um momento, achei que você não tivesse mais voltado, esquecí do café já feito. Então fui ler o bilhete. Embaixo do que eu tinha escrito, você rascunhou, de caneta preta "então eu irei atrás de você. Te amo. Nos vemos a noite." E então eu ví, que minha única preocupação, é não se preocupar com nada.
Te amo.
Olho para o lado, ele ainda está aqui, agora me olhando assustado, como quem espera que a fática da nossa conversa seja testada. Olho para ele, penso por mais um tempo, respondo levemente um "é, cara." e dou mais um gole no café. Ele continua me olhando curioso. Sinto a vontade de falar de você para alguém. Olho para ele, dou mais um gole no café e começo. Não cito nomes e trato da história mais como se fosse uma fábula do que como se fosse minha vida. Atribuo valores a coisas que, pelas feiçoes do meu ouvinte, não passam de simples normalidades. Quando percebo isso, acho que tudo que estou falando é simplesmente idiota. Dou mais um gole no café. Conto tudo com uma perspicácia impressionante. Detalhe por detalhe, transformo a história em algo tão palpável quanto o meu copo de café. Tento transbordar toda a emoção que sinto pensando naquilo quando falo.
Ao final de um, talvez longo, diálogo olho atentamente para os olhos de meu ouvinte, que mais parecia minha vítima à essa altura, e ele, com sua mente como a de todas as pessoas normais, fica perplexo por como eu transformei em algo tão grande algo tão simples. E me faz perguntas que eu não queria responder, e eu respondo tudo com velocidade e desânimo. Termino o café e sento numa posição mais confortável, esperando a pergunta que eu quero responder. Me sinto egoísta de não dar valor as outras, mas elas, naquele momento, realmente não tinham valor. Finalmente ela chega, como um relampago entre as nuvens "e se ela um dia resolver te deixar ?" Suspiro, fecho os olhos e volto para o meu sonho, onde foi a última vez que escutei essa pergunta...
"Acordei, vestí minha roupa de todo dia e saí de casa. Tive um dia normal, com pausa para o café com bolo, como sempre. Pensei em levar algo para casa hoje. Queria te presentear. Gosto de lhe dar coisas porque você gosta das mesmas coisas que eu, então posso escolher um presente para mim, e ele serve perfeitamente para você. No caminho de casa encontro um amigo, paro para conversar e rio um pouco. Ele me pergunta sobre mim, falando sobre mim só falo em você. Ele se assusta, de uma forma positiva, como um verdadeiro amigo se assustaria. E me faz a tal pergunta, que, até então, eu nem havia pensado em pensar... "e se um dia ela te deixar?" No momento, me assustei, quase apavorei, devo admitir, mas com o tempo, são de minha resposta, disse: "ai, amigo, eu vou precisar de muito mais que um copo de café." Ele riu, eu rí, mas aquilo realmente era algo a se pensar. Cheguei em casa com um disco novo do Chico Buarque. Dessa vez eu tinha certeza que era o "Construção", da última, veio o disco errado no encarte certo. Entrei em casa, pelo jeito, ou você estava dormindo, ou não estava. Ao julgar pela hora, não estava. Na sala, na mesa, um recado "Fui na padaria, já volto." Lí e sorrí. Tomei mais um copo de café, comi um pão, deitei. Como ainda não havia chegado, tornei a levantar. Peguei o seu recado, virei do avesso e escreví " e se um dia eu não voltar mais pra casa?" E, talvez com um ar um pouco triste, dormí. Pela manhã, quando acordei, você já não estava. Fui na cozinha, tinha café pronto. Agradecí por você ainda lembrar de mim, olhei na sala, meu bilhete estava lá ainda. Por um momento, achei que você não tivesse mais voltado, esquecí do café já feito. Então fui ler o bilhete. Embaixo do que eu tinha escrito, você rascunhou, de caneta preta "então eu irei atrás de você. Te amo. Nos vemos a noite." E então eu ví, que minha única preocupação, é não se preocupar com nada.
Te amo.
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